Em frente ao porto da cidade de Cabedelo, na Paraíba, uma placa sinaliza o marco zero da Transamazônica, um dos projetos mais polêmicos do Brasil.
A BR-230 fez parte do programa de integração nacional do governo militar, cuja intenção era levar nordestinos a ocupar áreas pouco povoadas da região Norte.
Era o início da década de 70, época em que ambientalistas eram raros e não se questionava a derrubada de milhões de árvores.
Só que não houve um estudo de viabilidade econômica e a maioria dos colonos acabou desistindo de se fixar na Amazônia.
“Agricultura e distribuição de terra sem infraestrutura em termos de saúde, educação, transporte, segurança e créditos acessíveis não funciona. Dos primeiros colonizadores, apenas 15% ficaram”, aponta o bispo do Xingu, Erwin Krautler.
Pelo projeto original, a estrada se estenderia por oito mil quilômetros e ligaria o Atlântico ao Pacífico, atravessando toda a América do Sul de leste a oeste.
O plano foi modificado para um projeto que chegaria apenas até a fronteira do Brasil com o Peru, mas as obras pararam bem antes. Mesmo assim, com 4.223 quilômetros de extensão, a Transamazônica é uma das maiores rodovias do mundo.
Ela atravessa sete estados (Paraíba, Ceará, Maranhão, Tocantins, Piauí, Pará e Amazonas), corta 63 municípios e passa por três ecossistemas.
Programas de governo nos anos 60 e 70 incentivaram uma sangria sem limites da natureza. “A ideia de inserir a Amazônia no contexto nacional acabou nos transformando apenas em um enorme almoxarifado, de onde tudo se tira e nada se repõe”, diz o jornalista e escritor Ademir Braz.
Hoje, com as novas regras, alguns setores se tornaram insustentáveis, como a das siderúrgicas que produziam ferro gusa.
Das dez indústrias do polo industrial de Marabá (PA), nove fecharam as portas nos últimos anos. O Ibama diz que as fábricas não se adaptaram à legislação ambiental e continuavam a queimar carvão ilegal para produzir ferro gusa.
Na última operação, em 2011, foram aplicadas multas que chegaram a R$ 200 milhões. As fábricas acabaram fechando e seis mil pessoas perderam o emprego.
Em longos trechos da Transamazônica, não há sinal de asfalto, meio-fio ou sinalização. A estrada é perigosa. Em trechos sem asfalto, o movimento de caminhões faz surgir uma cortina de poeira. Mesmo com o céu claro, a visibilidade para o motorista é igual a um dia com neblina.
Só nos últimos cinco anos, ocorreram mais de 15 mil acidentes na BR-230. Mais de 500 pessoas morreram.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra, 20 pessoas foram assassinadas nos últimos oito anos por conflitos agrários.
Em 2005, a missionária Dorothy Stang, que ajudou a fundar a primeira escola de formação de professores da Transamazônica, foi morta com seis tiros por defender o uso sustentável da floresta.
Os mandantes do crime ainda estão soltos. “A impunidade na Amazônia mata e desmata”, afirma Amaro Lopes de Souza, pároco da igreja de Santa Luzia. Ele trabalhava com Dorothy e também é um homem ameaçado.
Polêmica de Belo Monte
A região amazônica também é palco de um projeto polêmico, a hidrelétrica de Belo Monte. Quando estiver em pleno funcionamento, em 2019, ela será a maior do Brasil, com 18 turbinas e geração de 11 mil megawatts de energia.
Segundo os administradores, o projeto original foi adaptado para causar o menor impacto ambiental possível no rio Xingu, que será em parte desviado.
Existe também o compromisso de medidas compensatórias, como saneamento básico em bairros pobres de Altamira (PA). Mas, para críticos do projeto, é tarde demais.
Por causa das obras, a cidade inchou 30% em apenas dois anos e já faltam casas, escolas e hospitais. Na opinião do bispo do Xingu, é mais um projeto desastroso para a região. “Altamira não teve condição de assumir a responsabilidade por milhares de pessoas que apareceram de um dia para o outro”, diz Krautler.
A Transamazônica, a rodovia que foi inaugurada, mas jamais foi concluída, termina às margens do rio Purus. Já são 40 anos de sonhos, esperança, promessas, polêmicas e muitas dúvidas: progresso ou equívoco? A estrada segue cheia de desafios, como a vida de quem ainda acredita nela.
Fonte: G1 e agenciat1
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