Levantamento da CNT avaliou qualidade das vias de escoamento de grãos. Mato Grosso foi responsável por 30% da soja exportada pelo país em 2014.
A malha rodoviária de Mato Grosso possui apenas dois trechos considerados bons para o escoamento da produção de grãos do estado, responsável por praticamente um terço do volume de soja e por mais de 55% do volume de milho exportado pelo Brasil no ano passado. A situação foi apontada pela última pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), divulgado nesta segunda-feira (25), segundo a qual o país perde anualmente R$ 3,8 bilhões por conta de gastos relacionados à má qualidade das estradas destinadas ao escoamento da produção de grãos.
De acordo com o levantamento, que cruzou dados já produzidos em pesquisa mais abrangente feita pela CNT no ano passado, os únicos trechos considerados bons da malha rodoviária destinada ao escoamento estão nas rodovias federais BR-364 (trecho entre Diamantino e as proximidades de Tangará da Serra) e BR-163 (pequeno segmento que sai de Cuiabá com destino a Rondonópolis, mas antes mesmo da bifurcação com a BR-070). Neste último trecho, há um segmento de estrada que a CNT considerou ótimo, mas de dimensão muito reduzida em relação à malha avaliada no estado.
Corredores rodoviários
Em todo o estado, a CNT apontou que a maior parte das principais rodovias de escoamento da safra está em condições regulares ou ruins de trafegabilidade. Os problemas encontrados vão desde a qualidade do pavimento à sinalização e à geometria da estrada.
Principal rota de grãos do estado, a rodovia BR-163 teve seu traçado avaliado como regular desde a divisa Norte do estado até a região do município de Jangada, quando já passa a ser considerada ruim até chegar à capital. Após os poucos trechos considerados bom e ótimo ao sul de Cuiabá, ela volta a ser considerada apenas regular até a divisa com Mato Grosso do Sul.
A mesma avaliação de regular a CNT deu fez para a BR-174, no trecho que sai da divisa com Rondônia (perto do município de Vilhena) até Sapezal, para a BR-364, no trecho entre Campo Novo do Parecis e o início da MT-358, e para a BR-158, no trecho entre Ribeirão Cascalheira e as proximidades de Alto Boa Vista.
A partir daí, a rodovia federal já foi constatada como não pavimentada ou parcialmente pavimentada. Pouco antes de cruzar a divisa com o Pará, a rodovia passa a figurar como ruim, tal como o trecho ao sul de Rondonópolis da BR-364 e a ligação estadual entre Sapezal e Campo Novo do Parecis.
Outros modais
Segundo Edeon Vaz Ferreira, diretor-executivo do Movimento Pró-Logística, a metodologia da CNT para avaliar a qualidade das estradas acaba subestimando parte da malha efetivamente trafegável. Mas, independentemente deste aspecto e da real necessidade de melhorias nas rodovias, ele chama atenção para o fato de que Mato Grosso precisa basear seu escoamento em outros modais de transporte, como ferrovias e hidrovias.
“O que nós temos que avaliar é a importância do uso dos outros modais de transporte. É natural que o transporte rodoviário seja a primeira ligação entre a produção e o modal escolhido, só não podemos tê-lo como única opção a longa distância. Isso onera violentamente o custo para o produtor. É necessário que Mato Grosso reduza sua dependência rodoviária”, defende, argumentando que o estado e o país precisam variar a oferta de vias de escoamento da produção mato-grossense por meio de investimentos em ferrovias e hidrovias que barateiem o custo de transporte até os portos.
EUA x Brasil
Considerados os custos de transporte até o destino final, Ferreira mostra a vantagem que um produtor norte-americano geralmente leva na competição com o brasileiro (os Estados Unidos são os principais concorrentes do Brasil na produção de grãos).
Um produtor da região de Sorriso (cidade a 420 km de Cuiabá), por exemplo, deve gastar uma média de US$ 171,00 por tonelada transportada até o comprador em Xangai, na China. Só de Sorriso até o porto de Santos (SP) o custo já chega a US$ 126,00 por tonelada, em média. Enquanto isso, um produtor norte-americano de Saint Louis, no estado do Missouri, por exemplo, deve gastar apenas US$ 71,00 para o mesmo transporte até o comprador. Somente da propriedade rural até o porto, este produtor gasta de US$ 10,00 a US$ 18,00 pelo transporte por hidrovia.
Mesmo consideradas as devidas diferenças de distâncias marítimas, a comparação deixa o produtor mato-grossense – e o brasileiro em geral – em situação desfavorável. “Fica difícil competir assim”, resume Ferreira.
Renê Dióz Do G1 MT
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