Malha viária de Minas Gerais vira rota de quadrilhas de roubo de outros estados

Malha viária de Minas vira rota de quadrilhas de roubo de outros estados
BR-251 atrai criminosos porque é a principal ligação entre as regiões Sudeste e Nordeste do país – Dione Afonso/Hoje em Dia

A fragilidade da fiscalização nas rodovias mineiras tem atraído quadrilhas especializadas em roubo de cargas para o Estado. Os criminosos, a maioria de outras cidades da região Sudeste do país, de acordo com a Polícia Civil, têm aterrorizado os caminhoneiros. Nos primeiros seis meses deste ano, foram 81 roubos nas estradas de Minas Gerais, contra 74 em 2014 – um aumento de 9,5%.

Ainda segundo a polícia, bandidos investem em organização, armamento pesado e até sequestro de motoristas e seguranças contratados para realizar a escolta dos produtos. “As quadrilhas levam em consideração o tipo de carga e o perigo que o roubo pode oferecer, como a presença de escolta. Para garantir o transporte do material, eles mantêm as vítimas presas”, contou o delegado Hugo Arruda, titular da Delegacia de Repressão a Roubo de Cargas do Departamento de Operações Especiais (Deoesp).

Os investigadores apontam que a deficiência na fiscalização das estradas facilita a atuação das quadrilhas. “Graças ao serviço de inteligência conseguimos identificar os criminosos que se valem da fragilidade de policiamento em grandes extensões”, explicou o policial.

Atrativo

Os criminosos de fora preferem agir em Minas, de acordo com o delegado, porque o Estado abriga 16% da malha viária do país. Ao todo, são 269.546 quilômetros de rodovias – entre federais, estaduais e municipais. “Grande parte do carregamento passa obrigatoriamente pelas rodovias do Estado. Por consequência, a maioria dos roubos acontece em estradas mineiras”, reforça.

Entre os tipos de cargas mais visadas estão derivados de petróleo, eletroeletrônicos, bebidas, cigarros, produtos de higiene, alimentos e medicamentos. A escolha do material a ser roubado depende da encomenda dos receptadores.

Os locais de maior incidência de crimes são as BRs 381 (entre Belo Horizonte e São Paulo), 251 (Montes Claros e Sul da Bahia), 050 (Uberlândia e Goiás) e 040 (BH e Rio de Janeiro).

Há 20 anos transportando produtos de higiene, o caminhoneiro Jarifvaldo dos Santos, de 41 anos, afirma que as rodovias mineiras são as mais perigosas. “Falta posto policial na estrada, o que facilita a atuação dos bandidos”. O motorista relembra que, há três anos, foi sequestrado e teve a carga, avaliada em R$ 20 mil, roubada na BR-251.

Depois de ser rendido na BR-040 com um carregamento de celulares e videogames, avaliado em R$ 60 mil, o motorista Breno de Assis, de 48 anos, tenta se precaver. “A escolta analisa os pontos de paradas antes de eu chegar com a carga e as viagens são feitas apenas no período diurno”.

Outro lado

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) afirma que, apesar da grande extensão viária em Minas, o número de postos de fiscalização é suficiente para atender a demanda. “São realizados patrulhamentos de repressão ao crime, além de operações que visam a segurança dos caminhoneiros”, frisou o inspetor Aristides Júnior, chefe da assessoria de imprensa.

Ação violenta tem troca de tiros com a polícia e sequestro

A maior preocupação dos transportadores de carga está no tipo de violência empregado nas abordagens dos ladrões. Troca de tiros com a polícia e sequestros são comuns nas ações, o que acaba afastando o trabalhador das rodovias. “Isso causa grande insegurança para as empresas”, afirma o diretor do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Setcemg), Ulisses Martins.

O medo dos motoristas é maior em trechos rodoviários sem patrulhamento, apontados pela polícia como facilitadores para a prática do crime. “Nesses locais, os bandidos têm a sensação de terem maior tempo para a retirada da carga e do caminhão do local”, observa o delegado titular da Polícia Civil na região Norte de Minas, José Eduardo Santos.

Presidente do Sindicato dos Caminhoneiros de Minas Gerais, Antônio Vander Silva Reis afirma que a fragilidade no policiamento preventivo na malha viária no Estado acaba comprometendo o transporte de cargas. “Não existe horário seguro para fazer o deslocamento. A assistência é mínima seja de dia ou de noite”.

Tecnologia

Para tentar reduzir as ações dos criminosos, empresas apostam em sistemas de monitoramento das cargas. Uma das alternativas encontradas é um localizador distribuído aleatoriamente pelos compartimentos. “A ideia é que o transportador acompanhe o deslocamento da carga em tempo real. Assim é possível acionar a polícia para avisar do roubo e também localizar os produtos”, explica o diretor-presidente da empresa Alarme Santa Rita, Roberto de Souza Pinto.

A alternativa, no entanto, só é procurada quando o roubo acontece. “O ideal é manter a vigilância constante”, alerta Roberto.

Rombo

Em muitos casos, segundo Ulisses Martins, o prejuízo vai além do roubo da carga. “Dependendo do tipo de carregamento, indústrias e comércio ficam com a produção e vendas comprometidos por meses. O ônus não se limita ao material roubado, a extensão é muito maior”.

153 Ocorrências foram registradas nas rodovias que cortam o estado em todo o ano passado

Gabriela Sales – Hoje em Dia

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