Dia do (a) Motorista é celebrado pela categoria

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Com três datas comemorativas ao longo do ano, caminhoneiros também são celebrados no dia 25 de julho, dia de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas.

Texto: Redação Chico da Boleia

Você leitor ou leitora que não é da estrada, que não vive da rodagem e que não está no dia a dia no trecho, já parou pra pensar que tudo o que você usa, consome ou precisa chegou até você, pelo menos parte do caminho, de caminhão?

O sistema logístico brasileiro engloba quatro modais, o rodoviário, o aquaviário, o aéreo e o ferroviário. De acordo com a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), o transporte rodoviário é responsável por mais de 60% do transporte de cargas em todo o país. O Anuário do Transporte de Cargas de 2015 mostra que o PIB acumulado do transporte até setembro de 2014 foi de 227 bilhões, uma participação de quase 5% em todo PIB nacional no mesmo período.

O setor conta com milhares de trabalhadores, autônomos, agregados ou contratados de empresas de transporte. Os caminhoneiros e caminhoneiras somam mais de 1 milhão de trabalhadores e participam em mais de 50% de todo TRC. Juntamente com os outros elos de toda essa cadeia, eles geram uma receita de mais de 15 bilhões de reais ao ano.

As rodovias, portos, armazéns, dentre outros pontos que compõem a infraestrutura do sistema logístico brasileiro, fazem parte de um dos segmentos que mais recebe investimento em todo o país. Dos financiamentos concedidos pelo BNDES, o segundo setor que mais recebe verbas é o logístico.

O transporte rodoviário de cargas é, portanto, o principal modal brasileiro e realiza a distribuição e abastecimento de praticamente tudo que é consumido e necessário em todas as partes do país.

Essas são razões mais do que suficientes para celebrarmos os caminhoneiros e caminhoneiras, profissionais tão fundamentais para manter e fazer desenvolver o TRC brasileiro. Não à toa, os profissionais das estradas possuem três datas comemorativas no calendário nacional: 30 de junho, 25 de julho e 16 de setembro.

No sétimo mês do ano, os caminhoneiros e caminhoneiras são celebrados juntamente com o padroeiro dos motoristas: São Cristóvão. Não é difícil encontrar na rodagem quem tenha um santinho, imagem, oração ou qualquer objeto que faça alusão ao santo e que simbolize a proteção. As boleias costumam mostrar a devoção daqueles que confiam sua segurança para as forcas divinas e São Cristóvão está sempre entre elas.

Historicamente, não se tem muita informação sobre a origem do santo e as lendas são muitas. Mas sabe-se muito bem que São Cristóvão significa aquele que “carrega Cristo” em proteção, com prudência e responsabilidade. Daí a crença de que São Cristóvão é aquele que ilumina os caminhos e pode guiar as mãos dos que vivem das estradas.

Pelo país afora, as tradicionais festas de caminhoneiros vêm acompanhadas de procissões e homenagens não só ao padroeiro dos motoristas, mas também à Nossa Senhora Aparecida, a santa mais amada do Brasil. E são nessas celebrações que a gente pode encontrar a diversidade e a pluralidade do setor.

Por isso, nesta reportagem a gente vai dar voz a eles: os caminhoneiros e caminhoneiras. Eles são vários: jovens, adultos, mais velhos, experientes e iniciantes. Levam de tudo: borracha, alumínio, cesta básica, frauda, alimentos, combustíveis, medicamentos. Andam pelo norte, nordeste, sul, sudeste e centro-oeste, lugares que a gente nem imagina que existam. E é nesse espaço aqui que você vai poder conhecer um pouquinho da história e das necessidades de alguns deles. Feliz Dia do (a) Motorista.

Reconhecimento

renissonRenisson Carlos do Nascimento, de 31 anos, é motorista de um Volvo 440 pela rota da BR-101 no estado de Sergipe, transportando para os estados do nordeste e também São Paulo. “A gente é iluminado por Deus e São Cristóvão nos protege de qualquer coisa.”, afirmou o devoto.

Em entrevista à Chico da Boleia, Nascimento destacou que uma das coisas que mais o entristece dentro da sua profissão é ver como os caminhoneiros não são valorizados. O caminhoneiro disse, inclusive, ter visto situações de injustiça contra outros companheiros de profissão.

“É uma pena que muitos vejam dessa forma o que a gente faz, mas a gente traz o pão
de cada dia para a mesa de todo mundo. O caminhoneiro tem que ser celebrado e valorizado para que ele tenha ânimo e coragem para o trabalho”, destacou.

Infraestrutura

helioHélio José Marcelino tem, nada mais, nada menos, que 50 anos de profissão. Atualmente, ele dirige um Scania LS 2004, fazendo rotas para o nordeste e, para nossa surpresa, o senhor de 72 anos carrega fraudas. “Vou pra Natal, Belém do Pará, gosto de longas viagens, só não gosto de ficar dentro de cidade. Minha devoção é a São Cristóvão e, enquanto Deus dá saúde a gente vai tocando”, afirmou.

Marcelino não se queixa, disse que não gosta muito de reclamar, mas frisou que em algumas estradas os acidentes acontecem mais por causa da falta de manutenção. “As estradas deveriam ser melhores, aqui no estado de São Paulo não tem muito problema, mas na Belém-Brasília, por exemplo, tem buracos que se você cair dentro quebra o caminhão. Acho que se os de lá de cima escutarem isso eles dão um jeitinho de tapar os buracos”, brincou o caminhoneiro.

IMG_0711Quem também apontou os problemas de infraestrutura foi o jovem caminhoneiro Alaerte Pelentier, de apenas 28 anos. Ele dirige um Scania e carrega derivados de PVC do Rio Grande do Sul até São Paulo. Contratado de uma empresa, Alaerte destacou que é evangélico, mas que sempre acompanha as celebrações dos motoristas do dia 25 de julho “porque é uma data que se reúne amigos e família”.

Sobre o dia a dia de trabalho, o gaúcho afirmou que, mesmo fazendo uma rota conhecida e com um pouco mais de infraestrutura, existem inúmeros postos sem o mínimo de condição para receber os motoristas.

“Acho que esse é o grande problema que eu vejo nas estradas. Pra São Paulo e Belo Horizonte é mais tranquilo, mas eu já vi postos sem nenhuma infraestrutura, estradas horríveis que eram perigosas e mal sinalizadas. Isso precisar ser melhorado para os caminhoneiros terem mais condições de fazer o seu trabalho com segurança.”, declarou.

As estradas e a família

Nessas andanças coletando entrevistas de caminhoneiros, encontramos um caso peculiar. Reinaldo Fernandes Santos é caminhoneiro autônomo, mora em Guarulhos, tem 34 anos de profissão e faz entrega na grande São Paulo com seu 1418. “Encaro a marginal de manhã, acordo as 3 da manhã e volto pra casa à meia noite”, afirmou.

IMG_0715O caminhoneiro costuma carregar escada, produtos de alumínio e também faz distribuição de cestas básicas para empresas da capital paulista. Ao contrário dos outros companheiros, Santos contou que as estradas melhoraram muito e que a infraestrutura oferece condições boas para os caminhoneiros. “O pedágio às vezes é meio salgado, mas agora é obrigatório que ele seja pago por quem contrata o frete”, destacou.

O devoto de São Cristóvão, São Jorge e Nossa Senhora Aparecida, no entanto, reclamou que já passou por maus bocados durante a realização das descargas. “Nas empresas grandes a gente, às vezes, é tratado muito mal. Você quer ir no banheiro e o cara não deixa você entrar”, revelou o caminhoneiro.

Se o motorista estiver com a família, a situação piora. “A mulher não entra nem no pátio, não pode nem ficar no caminhão. Quando a gente faz a descarga perto de horário de almoço, alguns não deixam a gente nem usar a cozinha pra esquentar a comida”, afirmou.

Reinaldo diz compreender que é a política de algumas empresas, mas acredita que o caminhoneiro também tem direitos fundamentais que devem ser levados em conta pela sociedade. “A gente tem família, a gente precisa comer”, finalizou o caminhoneiro.

A estrada também é delas

Na edição de maio deste ano, preparamos uma publicação especial falando sobre as caminhoneiras mães que rodam pelas estradas desse país. Na ocasião, nos encantamos pela história da Marya Solange, uma caminhoneira pernambucana, muito simpática e batalhadora. Por isso, vale a pena relembrar essa história.

Marya SolangeMarya Solange é natural de Pombos e tem 44 anos, sendo 22 deles de estrada. O currículo dela é de dar inveja a qualquer caminhoneiro que se preze: “Eu já dirigi 1113 truck, 4030, cavalinho, de tudo. Já peguei vários tipos de caminhões, rodei 23 estados e já fui até o Paraguai.”, declarou.
No entanto, para elas, as estradas ainda são lugares que oferecem muito preconceito. “Já sofri muito preconceito e já vi muita mulher sofrer preconceito na estrada”, declarou a caminhoneira que partilha da mesma opinião que muitas outras.

+ Confira aqui a edição mês das mulheres

Por outro lado, Solange afirma que, aos poucos, a realidade está mudando. “Quando eu comecei na profissão era mais difícil, mas hoje em dia o setor já está mais acostumado com a nossa presença. Eu não trabalho mais como caminhoneiro, pretendo voltar porque meus filhos já estão crescidos, mas direto eu recebo convites de transportadoras que querem me contratar. Eles gostaram do serviço”, afirmou.

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Wellington P. S. Maior| Foto: Arquivo Pessoal
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Jorge Santos | Foto: Arquivo Pessoal

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