Área para caminhões durante restrição de tráfego no Anel Rodoviário é insuficiente

Responsáveis pelo posto Mutuca, no km 544, sinalizaram que devem participar da proposta

A proposta de restrição de carga pesada no Anel Rodoviário de Belo Horizonte avança, com reuniões semanais entre os órgãos envolvidos, mas um ponto importante permanece sem resposta: onde os caminhoneiros poderão parar os veículos durante a proibição do tráfego. Quatro postos de combustível na BR-040, entre Itabirito e Nova Lima, já foram identificados pela concessionária responsável pela via. No entanto, a conta não fecha.

Diariamente, durante o horário de pico do fim da tarde e início da noite, cerca de 900 caminhões circulam pela rodovia, mas os pontos de apoio selecionados têm capacidade para receber no máximo 110. Além disso, falta convencer os proprietários dos estabelecimentos a ceder as áreas de estacionamento mesmo sem um retorno financeiro.

A reportagem do Hoje em Dia esteve nesses postos. Dos quatro mapeados, apenas um, o Mutuca, sinaliza que vai participar da ação. “Acho que vai dar certo porque as pessoas vão se programar para passar no Anel só nos horários permitidos”, afirma a gerente Emília Barbosa.

Opinião contrária tem o gerente de pista do posto Chefão, Jair Batista de Oliveira. “Se os caminhoneiros forem abastecer ou consumir algo aqui, serão bem-vindos. Mas temos limitação de espaço”, adianta o funcionário. No local, o único estacionamento já é usado por motoristas que param em um restaurante.

“Carrego sucata de Jeceaba para Pedro Leopoldo todos os dias, passando pelo Anel. E me pergunto onde vou colocar o caminhão? Essa medida vai ser igual a lei do descanso que pedia para a gente parar em viagens longas. Você vê caminhoneiro descansando?” – Donizete Fernandes, caminhoneiro

No posto Paraíso das Águas caberiam 15 caminhões. Mas o espaço já é dividido pelos chamados “agregados”, que são os caminhoneiros que só abastecem por lá. O gerente Gladson Lopes Soares teme por prejuízos com a medida. “O posto vai ficar lotado. Vai ter caminhoneiro que vai parar na entrada e dificultar o acesso às bombas”, afirma.

Já o posto Água Boa sequer está em funcionamento. Segundo o borracheiro Antônio José Ferreira, que trabalha em um cômodo próximo ao local, apesar de o espaço ter capacidade para cerca de 40 caminhões, o ponto de parada não é utilizado devido à insegurança. À noite, diz ele, o local fica deserto e há risco de assaltos.

Nos 26,5 Km do Anel Rodoviário, foram 1.056 acidentes neste ano, segundo dados da PM; ao todo, 756 pessoas ficaram feridas e 27 morreram

Restrição

A proibição do acesso de veículos de cargas no Anel Rodoviário ocorrerá entre os quilômetros 543 e 537, do Olhos D’Água à avenida Amazonas. O trecho inclui o bairro Betânia, onde há afunilamento de pista e ocorre a maior parte dos acidentes.

Os demais detalhes sobre a restrição ainda estão em estudo pelo grupo formado pela Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar Rodoviária, Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Prefeitura de Belo Horizonte e Via 040.

Mas levantamentos feitos pela Via 040 já sinalizam que a medida deve ser adotada entre 17h e 20h. Nesse intervalo, aproximadamente 9 mil veículos acessam a pista no sentido Vitória. Além disso, mais de 30% dos 585 acidentes ocorridos de janeiro a outubro, conforme dados da concessionária, foram nesse horário.

“Sabemos que a restrição não é a solução para o Anel Rodoviário porque há um problema estrutural. Mas ela pode reduzir os acidentes”, afirma o tenente da Polícia Militar Rodoviária, Pedro Henrique Barreiros.

Caminhoneiros questionam mudança na rodovia

A restrição de veículos pesados no Anel Rodoviário ainda passará por audiência pública na ANTT, mas os caminhoneiros já começam a perder o sono com a possibilidade. Atraso nas entregas e dificuldade de encontrar pontos de apoio são algumas das questões levantadas.

“Venho do Rio de Janeiro e passo pelo Anel Rodoviário toda semana. Esse é meu único acesso e não posso atrasar”, afirma o caminhoneiro José Cláudio da Rocha, de 49 anos. Já para Donizete Fernandes Lima, de 54 anos, a medida será sinônimo de engarrafamentos e acidentes. “As rodovias vão ficar ainda mais perigosas”, diz.

“Não estão pensando nos riscos de a gente ficar parado nas estradas com as cargas. Muito menos nas perdas de tempo e dinheiro com o atraso na entrega. E se a gente tiver que pegar o retorno para parar no posto do outro lado da pista ainda vamos gastar mais combustível”

José Cláudio da Rocha, caminhoneiro

Os receios dos profissionais são os mesmos apontados pelos especialistas em transporte e trânsito. “A BR-040 não tem espaço para os caminhoneiros pararem, isso é fato. Eles vão ocupar uma pista com filas de veículos para obedecer a regra? Vão ficar transitando na rodovia? É acidente na certa”, afirma o professor Márcio Aguiar.

Para o consultor em transporte Silvestre de Andrade, a restrição pode gerar congestionamentos na via por causa do aumento do fluxo de veículos de carga assim que terminar o intervalo da proibição de horário. “Por serem veículos grandes, e estarem em maior número, vão ocupar mais espaço, reduzindo a capacidade da via”.

Sobre a falta de espaços para os caminhões e a possibilidade da medida gerar congestionamentos e acidentes, conforme especialistas e caminhoneiros, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que tudo será avaliado pelo grupo de trabalho formado. Já a ANTT não se pronunciou até o fechamento desta edição.

Fonte: Hoje em dia

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