Segundo a Polícia Rodoviária Federal, adulterações visavam permitir que os caminhões circulassem com excesso de peso.
Uma operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do Ministério Público do Espírito Santo (MP-ES) cumpriu mandados de busca e apreensão na manhã desta quarta-feira (21) para desarticular uma quadrilha que adulterava a estrutura de carretas e falsificava documentos para que circulassem com excesso de peso. Catorze pessoas foram presas.
A operação “Raptores” identificou 579 carretas com a estrutura adulterada, 151 delas com a autoria da fraude comprovada. Essas alterações nos veículos aconteciam em quatro oficinas mecânicas do estado: duas em Viana, uma em Linhares e uma em Cachoeiro de Itapemirim.
Ao todo, foram cumpridos 15 mandados de prisão e 21 de busca e apreensão no Espírito Santo, na Bahia e em Minas Gerais. Os mandados resultaram na prisão de 14 pessoas, (cinco no Espírito Santo, quatro na Bahia e cinco em Minas Gerais). Uma pessoa da Bahia está foragida.
Dos 15 mandados de prisão, cinco foram cumpridos no Espírito Santo. Foram presos o chefe do esquema, que mora em Viana e é dono de uma oficina, e outros três donos de oficinas que também adulteravam estruturas nos municípios de Viana, Cachoeiro de Itapemirim e Linhares, e um empresário que emitia laudos falsos sobre a situação dos veículos.
As investigações das fraudes tiveram início em 2017, após suspeitas de roubos de carga e veículo, mas foi verificado pela Polícia Rodoviária Federal duas organizações criminosas que atuavam na alteração da capacidade de carga das carretas e fraude de documentos.
Segundo a investigação, os veículos tinham capacidade de carga aumentada de forma clandestina e sem passar por critérios e exigências dos órgãos de fiscalização, levando risco para a estrada. Essas alterações afetavam partes importantes dos veículos como freios e pneus.
A quadrilha usava eixos de carretas envolvidas em acidentes, já desgastadas, para fazer a adulteração. Em um dos casos, um reboque de carro de passeio, feito para carregar 300 quilos, foi adulterado para ser usado em uma carreta, transportando 35 toneladas.
Esquema
O promotor de justiça e coordenador do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) Bruno Simões explica que os veículos tinham a estrutura mudada em oficinas mecânicas do Espírito Santo sem a autorização de órgãos fiscalizadores e sem inspeção.
Depois da adulteração, a documentação desses veículos era enviada para ser regularizada por funcionários dos Departamentos de Trânsito dos estados de Minas Gerais e da Bahia que recebiam propina.
“Esses caminhões não passaram por nenhuma certificação por institutos especializados nessas verificações. Neles eram usados eixos adulterados, adquiridos em ferros velhos e de veículos de origem ilícita, alterando a capacidade de peso do caminhão de forma drástica”, explica Simões.
O envolvimento de funcionário dos departamentos de trânsito de outros estados é explicado pelo promotor porque a organização não conseguiu fraudar os documentos no Espírito Santo.
“Por causa dessa barreira, eles buscaram servidores públicos de Minas Gerais e Bahia, pagavam uma propina e lá eles inseriram essas informações falsas em documentos válidos e encaminhava para o Espírito Santo para que o veículo pudesse trafegar”.
Acidentes
De acordo com a PRF, 1.264 acidentes com esses veículos adulterados foram registrados no Espírito Santo em 2017. Ao todo, 123 pessoas morreram. Entre eles, está o maior da história do Espírito Santo, que matou 23 pessoas na BR-101, em Guarapari.
Em 2018, esses veículos causaram 881 acidentes, com 78 mortes. “São bombas nas estradas”, declarou o promotor de justiça Bruno Simões.
O superintendente da PRF Wili Lyra explica que esses acidentes começaram a ser investigados pela característica em comum entre eles. “São de carretas que invadiram a contra mão e tiveram colisões frontais com morte do condutor do veículo pesado quanto dos ocupantes de outros veículos”, explica Lyra.
Operação
A operação foi batizada de “Raptores” e conta com o trabalho de 100 policiais rodoviários federais no Espírito Santo e 50 nos outros estados.
Uma nova fase da operação irá investigar os donos dos veículos que pagaram para ter o veículo adulterado pela quadrilha. O superintendente da PRF explica que nessa fase futura, o trabalho será em conjunto com o órgão de trânsito do Espírito Santo (Detran-ES) para identificar caminhões que passaram por modificação.
“O objetivo é apreender os que já foram adulterados e impedir que novas fraudes aconteçam”, diz Lyra.
Fonte: G1
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