Foton garante que Rio Grande do Sul é primeira opção para fábrica

O Rio Grande do Sul é o preferido para ficar com a primeira fábrica de caminhões da marca chinesa Foton no Brasil. A garantia foi dada ontem pelo vice-presidente corporativo da Foton Aumark, braço do grupo Beiqi Foton Motor no País, o engenheiro Orlando Merluzzi. O endereço será o terreno que já foi destinado à montadora Ford, em Guaíba. A decisão sairá até o fim do mês, e o Rio de Janeiro também está no páreo.

O executivo, com 30 anos de setor automotivo nacional, confirma que as obras do projeto, que mobilizará R$ 250 milhões, terão capacidade de montar 20 mil unidades e gerarão 400 empregos diretos, terão de começar até dezembro. É a condição para se inserir no programa do governo federal Inovar-Auto, que distribui desonerações fiscais a fabricantes que nacionalizarem a produção. Merluzzi, que já perdeu a conta do número de vezes que veio ao Estado desde o ano passado para as negociações, admite que a disputa é acirrada. “A vantagem é que o Rio Grande do Sul apareceu antes em nossa vida.”

Qual é o tamanho do empreendimento?

Orlando Merluzzi – A primeira fase prevê R$ 250 milhões de investimento, para uma capacidade de montar 20 mil unidades ao ano e geração de 400 empregos diretos. A fabricação inicial, que começará em fim de 2015 (prazo para enquadrar no programa Inovar-Auto), será bem menor e vai acelerando. A área terá 1 milhão de metros quadrados.

Haverá expansão?

Merluzzi – O plano é a partir de 2018, mas não definimos valor do investimento, pois dependerá do tipo de ampliação e se fornecedores chineses se instalarão no site. Sem isso, o aporte deverá ser de mais R$ 200 milhões. Traremos peças de fora e depois compraremos de fabricantes locais. A exigência é de 65% de nacionalização, começamos com 15% e atingiremos o teto em dois anos.

Quem disputa a fábrica?

Merluzzi – Conversamos com vários estados. Primeiro, foi o Rio Grande do Sul, em setembro de 2012. Foi o Estado que demonstrou grande competência e organização no processo. Mas as coisas andaram muito lentas, demoramos para atingir um acordo. Depois de tanto tempo, não firmamos nada. Quando demora para assinar protocolo, abre portas a outros competidores. Já descartamos Espírito Santo e São Paulo. Há um mês negociamos também com o Rio de Janeiro.

O que travou a negociação aqui?

Merluzzi – É difícil dizer. O Estado tem de seguir leis. Ao negociar, não se trata de dar benefícios. Para atrair o investimento, tem de viabilizá-lo ao longo do tempo. O Rio Grande do Sul fez tudo que é possível e fez bem feito. A questão é: entre ter a intenção e efetivá-lo há um longo caminho. O Estado tem uma equipe de pessoas honestas, uma mesa de negociação transparente e um processo de atração que deveria ser modelo a outros estados. Como investidor, preciso ver o que melhor viabiliza o projeto.

Quem atende melhor?

Merluzzi – O Estado é um dos que atende bem, mas a negociação é muito avançada com o Rio de Janeiro. Se tivéssemos sido mais rápidos, já teríamos assinado o protocolo com os gaúchos. Mas não foi culpa do governo. Também seguramos para entender melhor o Inovar-Auto. Hoje temos o Rio Grande do Sul como principal foco, mais que o Rio de Janeiro. Se os dois lados quiserem, resolvemos rápido.

O que falta para o Estado ficar com a fábrica?

Merluzzi – Falta aparar algumas arestas, sentar na mesa e assinar. Mas enquanto não botar no papel, é só uma grande intenção. Temos de liquidar isso neste mês. Gostaríamos muito que fosse com o Estado.

E a escolhida é Guaíba?

Merluzzi – Se for aqui, é Guaíba. Já fui ver a área várias vezes, é muito boa, próxima a Porto Alegre. Há alguns probleminhas, mas não são impedimento.

Os índios estão entre os obstáculo?

Merluzzi – Não sei se existe mesmo índio. Mas podem ser empecilho. Temos compromisso com a matriz na China. Se tivermos qualquer impedimento que inviabilize o projeto, teremos de partir para outra. Se não resolver este mês, a obra não sai neste ano. O governo nos assegurou de pé junto que não tem nada lá e que não é para nos preocuparmos. Quero deixar bem claro, em letras garrafais, que confio 101% nas pessoas do Estado. O Rio Grande do Sul é nossa primeira opção e ponto. As coisas estão muito bem encaminhadas, e o processo de negociação é muito sério na Sala do Investidor. A equipe do secretário Mauro Knijnik é surpreendente. Em 30 anos de indústria brasileira, poucas vezes vi um grupo tão competente.

Se não der no Rio Grande do Sul, confirma-se que existe o fantasma da Ford na região?

Merluzzi – Isso está longe do meu dia a dia, mas só posso opinar se eventualmente não der. Até agora não chegamos a este ponto. Não acredito que não dê. A parte documental demanda tempo. Não se faz isso da noite para o dia. É um casamento por muitos e muitos anos.

Fonte: Jornal do Comércio

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