Roberto Leoncini concede entrevista exclusiva a Chico da Boleia e é otimista em relação aos próximos meses.
Chico da Boleia teve a oportunidade de realizar uma entrevista exclusiva com o Vice-presidente da Mercedes-Benz do Brasil, Roberto Leoncini. Confira na íntegra as opiniões do especialista sobre o mercado de caminhões e o setor do TRC.
Chico da Boleia: Roberto, em primeiro lugar, como é que você vê a situação do mercado atual?
Roberto Leoncini: Eu acho que todo mundo sabe que a gente está passando por um problema político, conjuntural e aí a economia vem atrelada a isso. A perspectiva desse ano é o Brasil crescer nada ou negativamente, isso vem afetando a decisão de investimento dos nossos clientes. O mercado de caminhões retraiu. Se a gente for olhar em relação ao ano passado estamos perto de 40% menos. Em alguns segmentos essa queda foi ainda maior, como o de pesados, onde foi 60% menos em relação ao ano passado. Mas a Mercedes vem fazendo o trabalho dela, nós estamos fazendo o que tem que fazer, o que o Irmãos Davoli faz muito bem aqui, na região dele.
O que o resto da rede de Concessionárias vem fazendo muito bem. A Mercedes vem conversando com os clientes, mostrando opções, crescendo portfólio, principalmente o portfólio de serviços, porque eu acho que nesse momento não existe a decisão de compra mas a frota está rodando. A frota tem que estar assistida, então a gente veio com opções para poder baixar o custo operacional desta frota. O último lançamento do nosso portfólio de serviços foi o Mercedes Service Card que é um cartão onde o cliente pode ter desconto no combustível, pode usar no concessionário para peças e serviços. Quer dizer, estamos fazendo o nosso trabalho. Estamos do lado dos clientes, estamos escutando. Mesmo nesse momento de retração do mercado a Mercedes não parou de fazer o que ela tem que fazer.
Chico da Boleia: Pela sua experiência e pelo movimento tanto na área econômica, como o movimento na área política, você acha que no segundo semestre pelo menos a gente não afunda mais e respira um pouco?
Roberto Leoncini: Chico, eu acho que tudo depende das decisões que vão ser tomadas no campo político. Na verdade, a safra esse ano vai ser maior que no ano passado. A gente vai sair de uma safra de soja, engatamos numa de milho que vai ser um monstro, perto de 60 milhões de toneladas. E vamos engatar na de soja de novo. A agricultura vai bem, obrigado. O volume está aí, o preço está um pouco indefinido – a China anda fazendo algumas coisas com a moeda dela que afeta a gente aqui tanto no preço da commoditie agrícola, quanto no preço da carne, etc. Mas para nós, para o nosso cliente, o que interessa é que tenha o volume pra ser transportado. Tem que sair do campo, tem que sair do silo. O consumo das famílias cai um pouco porque vem essa coisa da instabilidade e da insegurança. Mas eu acho que a gente já sofreu demais até agora. Eu não acho que a gente vai sofrer além do que a gente sofreu no primeiro semestre. Ou vamos estabilizar ou vai ser um pouco melhor do que o primeiro semestre. A gente acredita nisso.
Chico da Boleia: Hoje pra Mercedes qual a linha de caminhão que tem tido mais visibilidade e mais venda? Vocês trabalham praticamente da linha leve a linha extra-pesada. Qual está tendo melhor posicionamento no mercado?
Roberto Leoncini: A Mercedes está bem posicionada em todos os segmentos. No leve a gente está indo bem, no médio a gente não vai tão bem, a gente tem um trabalho de casa pra fazer, porque esse também é o segmento muito dirigido a alguns grandes negócios e se você perder um ou dois grandes negócios você fica fora de posicionamento de marketing share. O semi-pesado vai muito bem, a gente ainda tem uma lição de casa pra fazer com o 8×2 de fábrica, e a gente vai solucionar isso num curto período de tempo. Vamos muito bem no extra-pesado, em relação ao off-road, onde a Mercedes tradicionalmente tem uma grande participação de mercado, e também no on-road. A gente fez várias ações em relação ao consumo de combustível, em relação ao conforto do motorista, principalmente no Axor. E o mercado vem respondendo a essas ações que a gente terminou de fazer agora. Temos futuros movimentos que já vocês vão ficar sabendo, principalmente no extra-pesado, que vão trazer mais brilho pra estrela em relação ao que ela já tem hoje nas aplicações rodoviárias.
Chico da Boleia: A ação de você visitar uma Concessionária no interior do estado, numa região potencialmente forte, significa uma atitude da Mercedes de ir em campo falar diretamente com seu cliente?
Roberto Leoncini: A ação de eu estar aqui hoje, como também outros executivos da Mercedes significa que nós estamos mudando de postura. A Mercedes sai de São Bernardo do Campo para escutar o cliente. Ela sai da posição de ser reativa para ser proativa. Eu estou aqui hoje, mas estou andando bastante pelo Brasil. De norte a sul eu já andei em bastante lugar, ainda tem muito que andar. Mas eu acho que essa é a posição que eu, como responsável por vendas na Mercedes tenho que ter, e todo o time tem que ter.
A gente tem que estar na rua, a gente tem que escutar o cliente, a gente tem que dar suporte para a Irmãos Davoli, por exemplo, que está aqui há 60 anos, na parte de mostrar a marca aqui. E nós temos que estar ao lado deles e ao lado dos clientes, porque a solução está em escutar a necessidade do cliente. Eu acredito 100% nisso e é assim que meu time vai fazer daqui pra frente.
Chico da Boleia: Sem dúvida que as médias e grandes frotas são muito importantes. Mas a gente não pode deixar de pensar que o Brasil tem hoje perto de 900 mil caminhoneiros autônomos. E aquele cara que trabalha direito tem potencial para comprar caminhão zero. Qual a ação para trabalhar com esse público?
Roberto Leoncini: Então, o que a gente faz voltado para o autônomo é primeiro trazer ele mais pra perto do novo através da Select Truck. Ela está lá exatamente para ser uma ponte exatamente entre o que ele está rodando hoje num caminhão semi-novo pra depois pular para um caminhão zero. Também o nosso banco é um dos únicos hoje que atua no Finame ProCaminhoneiro. A gente já fez bastantes operações e esse ano continuamos fazendo. O banco também ajuda a Select Truck com taxas diferenciadas do que está acontecendo no mercado. Nós temos uma preocupação enquanto montadora em relação ao conforto do motorista, em relação à segurança, nós temos o melhor pacote de segurança hoje disponível no Brasil. A gente acabou de mostrar isso lá no Sakamoto fazendo alguns testes do caminhão que freia – dependendo da distância que ele está do carro ele toma a iniciativa sozinho. O radar, o assistente de faixa, quer dizer, tem toda uma preocupação para aquela peça fundamental que é o motorista.
E por consequência, o motorista autônomo também. Então a Mercedes tem respeito e vai continuar tendo e vai continuar tentando entregar soluções. Por exemplo, na área de serviços temos a Alliance que é a marca de peças nossas que é justamente pra quem tem um caminhão mais antigo poder vir para a Concessionária Mercedes, encontrar uma solução que caiba dentro do bolso dele e reparar seu veículo. Agora a gente tem uma série de pacotes de serviços para os caminhões mais antigos. Quer dizer, a gente quer trazer todo mundo pra dentro de casa e eles podem ter certeza que dentro da Mercedes vão encontrar uma solução.
Chico da Boleia: Um caminhão Mercedes na prova de Santa Cruz do Sul da Fórmula Truck ganhou a etapa. Como a Mercedes vê isso?
Roberto Leoncini: Particularmente a gente gosta muito da Fórmula Truck, é uma pimenta em qualquer comida. A gente tem Concessionários que apoiam a Fórmula Truck e de forma indireta também apoiamos. E vamos ver o que vai acontecer daqui pra frente. Eu acho que é um entretenimento para o nosso setor, é uma competição extremamente profissional, dura, de engenharia, de desenvolvimento. Eu acho que a gente não pode ficar distante.
Chico da Boleia: Falando nesse ano, que é de Fenatran que, teoricamente, seria a maior feira da América em relação ao transporte. E vocês já declararam que não vão participar. Será que é uma decisão acertada?
Roberto Leoncini: A Fenatran ela é e vai continuar sendo a maior feira de transporte da América Latina. Esse ano em específico a Mercedes tem decisões muito duras para tomar em relação a pessoas, e aí a gente achou que não tinha sentido, com tudo o que a gente está fazendo na fábrica com pessoas, a gente também participar da Fenatran. Então essa foi a decisão da Mercedes, e em momento algum ela desmerece o papel da Fenatran como propulsora de novas tecnologias, de mostrar para o segmento novas implementações. E outra, é uma oportunidade também de encontrar amigos. Mas nesse momento a nossa decisão foi direcionada pela quantidade de coisas duras que temos que fazer dentro de casa, então não vamos para a Fenatran. Acertada ou não? Acho que acertada pra dentro de casa, pra fora de casa vai ter muita gente criticando e tal, mas a gente precisava pensar por esse outro lado.
Chico da Boleia: Bom, que recado você manda para o pessoal do setor, pro segundo semestre? Que mensagem você deixa?
Roberto Leoncini: A mensagem que eu dou é que eu estou há trinta anos com eles, o mundo não acabou, o Brasil não acabou, muito pelo contrário, a gente tem tudo pra crescer, a gente desgarrou um pouco do caminho, principalmente por atitudes políticas e não por fatores econômicos estruturais. Então eu acho que temos que acordar amanhã e trabalhar. Conte com a Mercedes. E eu tenho certeza que amanhã será melhor, depois de amanhã vai ser melhor e assim vai.
Redação Chico da Boleia
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