Pelos quase 1,7 milhão de quilômetros de estradas que cortam o Brasil escoa 58% do volume nacional de cargas. No entanto, 80,3% — mais de 1,3 milhão de km — não são pavimentadas. Ao todo, o país tem 12,1% de rodovias pavimentadas; os outros 7,6% são vias planejadas, isto é, ainda não saíram do papel.
Dividida por esfera de jurisdição, a malha rodoviária sob responsabilidade dos municípios é a que menos tem estradas pavimentadas, apenas 2%. Nas que estão na esfera estadual, a pavimentação não passa de 43,5%. As federais, por sua vez, têm 54,2% das vias asfaltadas. Os dados, de junho deste ano, são do Sistema Nacional de Viação, do Ministério dos Transportes, e incluem a rede rodoviária administrada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), concessões, convênios e MP-082.
A falta de pavimentação é apenas um dos problemas da infraestrutura logística brasileira. Em 2013, 300 profissionais das 250 empresas que mais faturaram no setor participaram de uma pesquisa do Instituto Ilos, e 99% disseram acreditar que a infraestrutura logística causa perda de competitividade para o país. Ao todo, 97% apontaram que estradas malconservadas são o principal problema. Levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT), também de 2013, foi além: viu que o acréscimo médio do custo operacional devido às condições do pavimento das rodovias brasileiras é de 25%.
— Sob responsabilidade do Dnit, 10% não são pavimentadas, mas a geração de riqueza não se dá só na esfera das estradas federais — diz o diretor geral do Dnit, Jorge Fraxe: — Por lei, a não ser que mude o marco legal, não podemos fazer absolutamente nada fora das BRs. Defendo que municípios, estados e União tenham metas estratégicas ao longo de 20 anos, que haja um plano estratégico em conjunto. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) dá condições para criar infraestrutura e é um caderno de prioridades. Se houver esse caderno para estados e municípios, podemos avançar mais.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal, a frota habilitada a circular — só de caminhões e reboques —, em junho deste ano, era de 5,035 milhões. No 1º semestre, acidentes envolvendo veículos de cargas já deixaram 392 mortos e mais de 3.600 feridos.
— A expansão territorial da demanda brasileira nos últimos 50 anos não pode ser comparada a nenhum país nos últimos 200 anos. Então, precisamos de investimento sustentado em modais de transporte. Países continentais como China, Canadá e Austrália mantêm nos últimos 30 anos a taxa de investimento em logística de transporte em 3,4% do PIB ao ano. Aqui, é 0,6% — diz Paulo Resende, coordenador do núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral.
Consultor de Infraestrutura Logística da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Luiz Antônio Fayet conta que “caminhões com soja e milho cruzam trechos de 500 km a mil quilômetros para chegar aos portos de Santos ou Paranaguá”:
— O ideal era não cruzar mais de 400 km. Produzimos 60 milhões de toneladas de soja e milho nas novas fronteiras e isso é levado para o Sul e o Sudeste. Com mais hidrovias e ferrovias, desafogaríamos as rodovias.
—Caminhões, por exemplo, que transportam frutas têm que rodar lentamente, por conta da má conservação das estradas, além de enfrentar o sol. Quando chega ao destino, parte da produção não pode ser comercializada. O Brasil perde US$ 2,2 bilhões por ano, 50% no manuseio da carga e no transporte — diz Antonio Gomes, da Embrapa.
A produção de grãos — que em 2014 é estimada em 200 milhões de toneladas — chega a ter, de acordo com o pesquisador da Conab Marilson Campos, perdas de 20%, incluindo o que é desperdiçado durante o transporte.
Por e-mail, o Ministério dos Transportes diz que, em 2014, os investimentos previstos em rodovias são de R$ 11,5 milhões. Para ferrovias, R$ 3,3 milhões, hidrovias, R$ 217 milhões e Marinha Mercante, R$ 4,6 milhões. E informa que o “Plano Hidroviário Estratégico, em execução, trata da implantação e expansão de hidrovias”. Sobre o Plano de Logística e Transporte, que tem como meta reduzir o transporte de cargas pelas rodovias para 30% até 2025, diz que “todos os esforços do ministério são direcionados para o exato cumprimento”.
Segundo o ministério, “o Dnit mantém contratos de manutenção permanente em 49.725 km. E com recursos do PAC, há obras em 7.357 km de rodovias”.
Fonte: O Globo / Blog Iveco
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