Atos antidemocráticos marcam eleições presidenciais e mostram esquema para incentivar a intervenção militar
Polícia Federal segue investigando o envolvimento de empresas, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e até “rachadinhas”
Redação Chico da Boleia
A eleição presidencial 2022 parou o país e trouxe à tona a divisão criada pela política, separando a população e reforçando preconceitos e inverdades compartilhadas ao longo dos últimos quatro anos.
Após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, eleitores do candidato Jair Bolsonaro, inconformados com a derrota, foram para as ruas protestar contra o resultado. A princípio, as manifestações que eram pacíficas, tomaram outro rumo e ganharam força com a propagação cada vez maior de fake news.
Caminhoneiros bolsonaristas passaram a fechar as rodovias e a atacar transportadores e seus veículos que tentassem furar os bloqueios. Alegando fraude nas urnas e exigindo intervenção militar, tais manifestantes chegaram a atacar policiais federais que tentaram acabar com os atos antidemocráticos.
A situação ficou ainda mais grave quando os envolvidos nos protestos passaram a depredar veículos (carros e caminhões), a agredir outros caminhoneiros, chegando os ameaçar de morte, um grupo armado atacou a base de uma concessionária e, um dos casos mais polêmicos, envolveu uma família que precisava passar pelo bloqueio para levar o filho para uma cirurgia. Caso menino não fizesse o procedimento, poderia perder a visão. Na ocasião, o pai do jovem foi ameaçado e proibido de passar. Somente no dia seguinte, ao tentar desviar por outro trajeto, a família pode chegar em segurança ao hospital.
Vale ressaltar que as entidades e sindicatos ligados ao transporte rodoviário de cargas (TRC) se posicionaram contra os atos antidemocráticos, alegando não terem envolvimentos em tais ações e condenando os bloqueios das rodovias, destacando que os mesmos eram prejudiciais para o desenvolvimento do país e abastecimento de indústrias e comércios, principalmente de hospitais e outras unidades de saúde que dependem de medicamentos e oxigênio.
Apesar das medidas tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), principalmente pelo Ministro Alexandre de Moraes, para encerrar os bloqueios e obter o detalhamento das ações dos policiais federais durante os atos antidemocráticos, os protestos continuaram durante dias, aumentando ainda, quando bolsonaristas passaram a acampar em frente a quartéis militares exigindo intervenção militar e querendo impedir a posse de Lula.
Investigações preliminares apontaram que empresários foram responsáveis por financiar os atos antidemocráticos em diversos estados. Na época, o STF determinou o bloqueio das contas bancárias dos suspeitos, que incluem 43 pessoas físicas e jurídicas.
Informações obtidas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e repassadas ao Supremo revelam que tais atos antidemocráticos eram financiados por empresários, com fornecimento de refeições, banheiros, barracas e caminhões, entre outras estruturas de apoio.
De acordo com o Ministro Alexandre de Moraes, “verifica-se o abuso reiterado do direito de reunião, direcionado, ilícita e criminosamente, para propagar o descumprimento e desrespeito ao resultado do pleito eleitoral para Presidente e vice-presidente da República, cujo resultado foi proclamado pelo Tribunal Superior Eleitoral em 30/10/2022, com consequente rompimento do Estado Democrático de Direito e a instalação de um regime de exceção”.
Dois meses após as eleições, os bolsonaristas seguem acampados e inconformados com o resultado e a vitória de Lula. Os manifestantes continuam acreditando que houve fraude eleitoral e que o socialismo irá dominar o país, tornando-o a próxima “Venezuela”. As alegações e as disseminações de fake news só servem para agravar o comportamento dos protestantes.
A escalada dos atos violentos tomou outro rumo no início de dezembro, quando bolsonaristas tentaram invadir o prédio da Polícia Federal em Brasília, chegando ainda a queimar carros e ônibus durante os atos, que foram classificados como terroristas. O crime ocorreu após a detenção de um líder indígena José Acácio Severe Xavante, apoiador do presidente Jair Bolsonaro.
Os ataques começaram após a determinação da prisão temporário de Xavante, pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Ministro Alexandre de Moraes, devido à suspeita de ameaça de agressão e perseguição contra o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
Os atos contra a prisão foram coordenados por meio das redes bolsonaristas e se assemelhavam as táticas black bock. Policiais federais e militares do Distrito Federal usaram bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Manifestantes revidaram com pedras.
Já na véspera do Natal, a Polícia Militar (DF) recebeu a denúncia de que um caminhão de combustível estaria transportando um suposto explosivo na via que dá acesso ao Aeroporto Internacional de Brasília. O artefato teria sido notado pelo próprio motorista do veículo, que teria acionado os policiais.
No local foi encontrada uma pequena dinamite, com temporizador, retirada pelo esquadrão antibombas. O material encontrado foi levado para perícia.
Na mesma data, Forças de Segurança do Distrito Federal foram acionadas por Policiais Militares que encontraram, após denúncia, uma caixa com artefato explosivo, deixando por um caminhão em uma via pública, próximo ao Aeroporto de Brasília. As investigações levaram a prisão do bolsonarista George Washington de Oliveira, de 54 anos, que confessou ter montado o material na área de acesso ao aeroporto.
Em depoimento à polícia, o acusado confessou ainda que o ato fazia parte de um plano elaborado com manifestantes para a instalação de explosivos em, pelo menos, outros dois locais da capital federal. O objetivo era “dar início ao caos” que levaria à “decretação de estado de sítio no país”, tentando provocar a intervenção das forças armadas.
Já no dia 26 de dezembro, a Polícia Militar (DF) desarmou cerca de 40 kg de artefatos explosivos encontrados em uma área de mata na região do Gama (DF). O material foi localizado poucos dias após a prisão de George Washington, autuado por terrorismo.
Além dos explosivos, foram encontrados também 13 coletes à prova de balas e cinco capas de colete. O material foi encaminhado para perícia e nenhum suspeito foi preso, até o fechamento desta edição.
*com informações da Veja, Correio Braziliense e Agência Brasil
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