Aumento do teor do biodiesel no diesel é prejudicial?

Aumento do teor do biodiesel no diesel é prejudicial?

Decisão é criticada por transportadores e traz dúvidas sobre o impacto da medida para o setor

Redação Chico da Boleia

Desde o dia 1º de abril desse ano, a mistura do biodiesel no óleo diesel foi ampliada de 10% para 12%. A decisão do Governo Federal tem como objetivo reduzir a emissão de poluentes prejudiciais ao meio ambiente e a saúde a população. Ainda de acordo com a determinação, em 2024 o percentual subirá para 13%.

A decisão provocou debate entre entidades e associações ligadas ao setor de transporte rodoviário de cargas, que alegam que o acréscimo do teor do biodiesel (no diesel) é prejudicial para os veículos que utilizam tal combustível, como caminhões e ônibus.

Para tirar dúvidas dos transportadores e entender melhor o papel do biodiesel, a redação do Chico da Boleia conversou com Robson Costa, engenheiro e professor da Estácio. Confira a entrevista:

1) Qual a diferença entre o diesel e o biodiesel?

Embora o diesel e o biodiesel sejam produtos orgânicos utilizados como combustíveis, eles apresentam uma grande diferença. A principal refere-se ao tipo de fonte dos quais são extraídos.

Enquanto o diesel tem origem fóssil, e é extraído do petróleo a partir de uma longa cadeia de carbono e, em sua composição, tem substâncias como hidrocarbonetos e compostos orgânicos como nitrogênio, oxigênio e enxofre. Já o biodiesel origina-se de gorduras vegetais ou animais. Quando produzido somente a partir de óleos vegetais, é considerado um produto puramente “verde”, uma alternativa sustentável ao combustível fóssil que predomina o mercado atualmente.

2) Qual o impacto do aumento da porcentagem de biodiesel no óleo diesel? Algumas entidades ligadas ao setor de transportes alegam que a medida pode provocar prejuízos financeiros e problemas mecânicos nos motores dos veículos. Essa alegação é verdadeira?

Existem, várias instituições, como a Associação de Motores Americana, além da própria Confederação Nacional do Transporte (CNT), que tem levantado esta questão, pois há estudos que apontam que a mistura de biodiesel ao diesel comum, acarreta pela sua base éster o surgimento de borra, com alto teor poluidor, que danifica peças automotivas, bombas de abastecimento, geradores de hospitais, máquinas agrícolas e motores estacionários.

Deveria haver mais estudos, comprovando ou não, que o aumento no teor de biodiesel pode levar a problemas de desgaste do motor, corrosão, acúmulo de resíduos, entupimento do filtro e diminuição da eficiência do combustível, antes mesmo do aumento de sua mistura.

Apenas com um estudo mais aprofundado, podemos afirmar ou refutar estas afirmações.

3) Quais são as vantagens do uso do biodiesel e por quê no Brasil a quantidade usada como mistura no óleo diesel é tão alta (até 15%), quando comparada a países da Europa (até 7%)?

A mistura de biodiesel no diesel, assim como a mistura de etanol na gasolina, foi instituída com o objetivo de reduzir as emissões de poluentes prejudiciais ao meio ambiente e à saúde da população.

Podemos dizer que a diferença nos percentuais está atrelada as políticas de cada país e segundo o Relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) mostra uma tendência na redução do combustível produzido a partir da esterificação de óleos vegetais por dois motivos principais: custo de matéria-prima e disputa com o diesel renovável, além de diferenças enormes de produção nestes países europeus, em relação ao Brasil.

4) Quais são as alternativas, já existentes no mercado, para evitar os problemas provocados pelo biodiesel ou até mesmo substituí-lo?

Os biocombustíveis são feitos por meio da biomassa. Por isso, e pela menor emissão de gases poluentes na sua queima, eles são vistos como alternativas aos combustíveis fósseis. Porém, pela diferença do diesel ou falta de controle da qualidade do combustível, permitindo diferentes misturas, o que ocasiona os problemas detectados, e causadores de aumento do custo de manutenção dos veículos por ele citados, são entupimento do filtro de combustível, forçando a troca em menos tempo; entupimento do bico injetor, exigindo limpeza, pois o veículo começa a funcionar com deficiência e muitas vezes implica na abertura do motor, além da formação de depósitos e borras dentro do motor e cárter.

Existem alguns estudos, que modificam sua base éster, ou a garantia de troca de culturas para sua formação.

O que podemos afirmar, é que este problema, ainda demanda de estudos mais aprofundados, e não apenas ser aplicado por decisões políticas.

A ciência deve prevalecer, sempre, na busca das soluções sustentáveis e que não criem “lendas” destas misturas de combustível x sustentabilidade. Está na hora de fazer a coisa certa.

Imagem: Freepik
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