Cantando as estradas – entrevista com o compositor e cantor Renato Teixeira

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No dia 12 de junho (sexta-feira), os cantores e compositores Renato Teixeira e Sergio Reis presentearam todos os namorados da cidade de Itapira e região – interior de São Paulo – com um belíssimo show. O espetáculo chamado “Amizade Sincera” foi realizado na Sociedade Recreativa Itapirense, em prol da Santa Casa de Misericórdia da Cidade. A apresentação ainda contou com a participação especial da Banda Lira Itapirense,  com a regência do maestro Perina.

O objetivo do evento foi fazer uma campanha de apoio à Santa Casa que, no ano passado, passou por diversas dificuldades financeiras. O hospital, um dos dois únicos na cidade, esteve prestes a fechar as portas e atualmente mantém as contas graças a uma mudança na sua administração e com a criação da OSCIP Irmã Angélica. A entidade também é apoiada pelo Laboratório Cristália e pelo Governo do Estado. O evento contou com apoio do Ministério da Cultura, por meio de leis de incentivo cultural, e com o patrocínio do Cristália.

Chico da Boleia esteve presente no show e conversou com Renato Teixeira. O compositor escreveu uma música muito conhecida entre os caminhoneiros chamada “Frete”, tema da série “Carga Pesada”, protagonizada pelos amigos Pedro e Bino. Aquela que diz assim: “Eu conheço todos os sotaques/Desse povo todas as paisagens/Dessa terra todas as cidades/Das mulheres todas as vontades/Eu conheço as minhas liberdades/Pois a vida não me cobra o frete”.

Quer saber de onde Teixeira tirou a inspiração pra fazer essa canção? Confira a entrevista na íntegra.

Chico da Boleia: Renato, como foi fazer essa música?

Renato Teixeira: Bom Chico, eu atuava no campo da publicidade, na agência que eu trabalhava a gente atendia a Petrobras e caminhões Mercedes. Hoje você entra na internet e têm disponíveis todas as informações que precisa, mas naquela época as informações eram colhidas em campo, in loco. Então eu frequentava muito os postos de gasolina, conversava com o pessoal. Eu entendia um pouco até da coisa psicológica, porque a publicidade procurava entender também o lado psicológico e emocional do caminhoneiro. Eu estive muito ligado a isso durante essa época de publicitário. E quando me pediram a música eu até vou te confessar que dei uma risadinha por dentro e pensei: “Isso aqui é comigo mesmo”. E eu procurei conduzir aquela história a partir da dinâmica do caminhoneiro, pela densidade da profissão, por aquela variedade de coisas que acontecem. É aquela coisa, marchando sempre, sempre, sempre, sempre, o caminhão vai né! Aí eu fiz a música e acabou dando certo.

A música é sempre uma loteria, é sempre uma aposta né, pra ver o que vai acontecer. Felizmente a gravação de “Frete” pra série Carga Pesada deu certo. Das músicas que eu gravei na vida acho que é a que eu mais gosto. Eu acho uma das mais completas, mais bem executadas, a mais bem mixada, a mais bem gravada. Eu gosto muito. Eu cantei legal, que ainda era um momento no qual eu ainda não havia me definido como cantor. Então eu gosto muito dessa gravação e tenho muita honra de poder ter um trabalho meu reconhecido pelos caminhoneiros. E como eu te disse, por conhecer um pouco eu sei qual é o grau da batalha, sei como é que é o lance e, até hoje, de vez em quando, continuo sonhando com soluções para que o nosso povo da estrada possa trabalhar com mais segurança e que a compensação seja generosa porque é um trabalho difícil! Então eu tenho maior orgulho de ter feito essa música e de ter me identificado com essa moçada aí!

Chico da Boleia: Bom, você sabe que caminhoneiro gosta de música e está ouvindo o rádio constantemente. Vamos fazer um programa mais completo com você tocando e se comunicando com o povo?

Renato Teixeira: Vamos que vamos! Vai ser o maior prazer! E aí tem “Frete”, mas também tem uma outra que fala de caminhoneiro. Se vocês repararem no meu repertório vocês vão ver que eu tô sempre falando, as minhas músicas sempre falam em andar. As minhas músicas sempre falam em viagem – “amanheceu peguei a viola, botei na sacola…”. “Romaria” mesmo é uma delas. “Ando devagar porque já tive pressa”. A minha música ela é o tempo todo falando de estrada, falando do caminhoneiro…Vamos fazer que vai ser legal!

Confira mais sobre os cantores e compositores

Sergio Reis

show_renato_teixeira_sergio_reis-25Sérgio Reis, batizado Sérgio Bavini, nasceu em São Paulo em 23 de junho de 1940, no bairro de Santana. O cantor e compositor sertanejo começou sua carreira com sucessos da Jovem Guarda, como a autoral “Coração de Papel”.

Em 1972, Reis gravou seu primeiro disco de música sertaneja com a canção “Menino da Gaita”. Seguiram-se os sucessos “Menino da Porteira”, “Adeus Mariana”, “Disco Voador”, “Panela Velha”, “Filho Adotivo”, “Pinga ni Mim” e várias outras canções. O disco “O Melhor de Sérgio Reis”, lançado em 1981, vendeu mais de um milhão de cópias.

Como ator, trabalhou em algumas novelas, como “Pantanal” e “A História de Ana Raio e Zé Trovão”, na extinta TV Manchete, e “Paraíso” e “O Rei do Gado”, na Globo. Em “O Rei do Gado”, o personagem de Sérgio formava a dupla sertaneja Pirilampo & Saracura com o personagem de Almir Sater, tendo gravado, inclusive, músicas para a trilha sonora.

No ano de 2003, Sérgio Reis gravou seu primeiro DVD, “Sérgio Reis e Filhos – Violas e Violeiros”, e como o próprio título diz, ele teve seus filhos como músicos na apresentação. Em março de 2009, Reis também foi homenageado com a refilmagem do longa “O Menino da Porteira”, protagonizada agora pelo cantor sertanejo Daniel, no papel do boiadeiro “Diogo”. Em agosto do mesmo ano, a gravadora Som Livre lançou uma coletânea de Sérgio Reis comemorando seus 50 anos de carreira, “Cantando o Brasil”, com quatro volumes trazendo os melhores e mais marcantes sucessos da carreira do músico.

Recentemente, Serjão recebeu sua sexta indicação para o Grammy Latino, a maior premiação de música da América Latina. E não deu outra: em novembro, o cantor levou mais uma estatueta para casa na categoria “Melhor Álbum de Música Sertaneja”, com o disco “Coração Estradeiro” (o primeiro prêmio veio em 2000). E vale lembrar: Sérgio Reis é o artista brasileiro que mais vezes foi indicado ao prêmio. “Estou surpreso e emocionado por mais uma estatueta de um prêmio de tamanha importância, como é o Grammy.”

Também há pouco tempo, Sérgio Reis gravou o CD e DVD “Amizade Sincera”, em parceria com o amigo Renato Teixeira, que foi lançado pela Som Livre em agosto de 2010. O projeto contou com a participação de seu filho Paulo e dos filhos de Renato, João e Chico, formando uma família só de músicos. Em pouco tempo, o DVD atingiu marca superior a 25 mil cópias vendidas e ganhou disco de ouro, permanecendo entre os dez produtos mais vendidos nas maiores lojas do país por semanas consecutivas.
Fonte: www.sergioreis.com.br

RENATO TEIXEIRA POR ELE MESMO

Confesso que não é nada fácil ter que contar minha história. Viver é uma coisa tão normal, que não vejo diferença nenhuma entre a vida de um artista e de qualquer pessoa. Entretanto, num determinado momento de nossa carreira, o trabalho que realizamos começa a ganhar notoriedade e a curiosidade aumenta, então a gente conta alguma coisa…

Muitos estranham o fato da minha música ter origens caipiras e eu ser caiçara, nascido em Santos. Vejo isso como uma questão puramente familiar; são fatos circunstanciais, apenas. Passei a infância em Ubatuba e a adolescência no interior do Estado. Meu pai melhorou de emprego com essa mudança; eu e meu irmão já estávamos em idade escolar; Taubaté, naquele momento, era mais conveniente. Mudamos para lá. E foi muito bom! A música, em Ubatuba, já fazia parte do meu dia-a-dia.

Das atividades familiares a que mais me interessava era a música; todos tocavam e alguns eram, verdadeiramente, músicos. Eu poderia ter sido fogueteiro como meu avô Jango Teixeira, que tocava bombardine na banda. Poderia ter sido professor como meu avô paterno, Theodorico de Oliveira, que tem uma linda história intelectual com a poesia e a literatura.

Mas a música não me deixou espaços. Quis ser arquiteto por influência de um verso de Manuel Bandeira pregado na parede do atelier do Romeu Simi,; ” Passou a arquitetura, ficou o verso.” Vim para São Paulo no final dos anos sessenta, por indicação de Luiz Consorte que colocou uma fita com minhas músicas nas mãos de seu tio, Renato Consorte, que a enviou para os ouvidos do Walter Silva. Dei sorte! O Walter era um grande promotor de novos artistas e um homem muito conhecido nos meios de comunicação. As portas se abriram e, logo eu estava no Festival da Record de 67. Minha música era Dadá Maria e foi defendida pela Gal Costa (também em começo de carreira) e pelo Silvio César. Mas, no disco do festival, quem canta com Gal sou eu. Foi minha primeira gravação. Participei daquela fatia da história da MPB como um espectador privilegiado.

Sempre procurei conhecer a nossa história musical, ouvir todas as canções e todos os gêneros. Do samba à música caipira. Em tudo que ouvi sempre deparei com o talento e a vocação dos compositores brasileiros. A geração musical que frutificou da Bossa Nova, nos anos sessenta era chocante. Uma linda síntese de tudo que aconteceu de essencial na música brasileira até então. Foi uma festa. Ouvi a Banda do Chico em São José dos Campos, antes do festival e foi um impacto inesquecível. Ainda morava em Taubaté.

Ouvi Milton Nascimento antes do sucesso, e era deslumbrante. Todos que o conheceram nessa época, já tinham por ele uma admiração que só os grandes mitos podem desfrutar. Vimos e ouvimos Elis, todos os dias. Assisti bem de perto o surgimento do Tropicalismo. Na virada dos anos sessenta para os setenta a música silenciou. Fui fazer jingles publicitários para sobreviver. Acontece que gostei muito do assunto.

Enquanto atuei nessa área consegui realizar um bom trabalho, pois criei jingles que fizeram muito sucesso como aqueles do Ortopé, do Rodabaleiro e do Drops Kids Hortelã, que muita gente lembra até hoje. Nesse tempo já havia me identificado totalmente com a música caipira. Participei efetivamente da Coleção Música Popular Centro Oeste/ Sudeste do Marcos Pereira onde gravei algumas canções; entre elas: “Moreninha Se Eu Te Pedisse “. Com meus lucros publicitários e em parceria com Sérgio Mineiro, criei o Grupo Água, que nós dois bancávamos.

Tocávamos sem visar lucros. Foi com esse grupo que consegui assimilar o espírito da cultura caipira e projetá-la de uma forma contemporânea para todo o Brasil. Tocamos muitos anos juntos até que, um dia, a Elis gravou Romaria e convidou o grupo para acompanhá-la na gravação. Foi um grande sucesso que mudou minha carreira e criou um grande espaço para que a música do interior paulista invadisse o mercado. Hoje vivemos um processo seletivo e a tendência é que, cada vez mais, as pessoas entendam o que Elis quis dizer, quando gravou Romaria.

A parceria com Almir Sater é um grande momento na minha história. Juntos compomos alguns sucessos que são fundamentais para a sustentação das nossas carreiras. As mais conhecidas são Um Violeiro Toca e Tocando Em Frente. Outra parceria importante foi com a dupla Pena Branca e Xavantinho. Nosso encontro foi em Aparecida do Norte no início dos anos oitenta e, juntos gravamos o disco “Ao Vivo em Tatuí”, que se transformou num marco no gênero. Aprendi muito com esses dois companheiros, verdadeiros representantes da cultura caipira.

A morte de Xavantinho foi prematura, sua partida impediu que pudéssemos usufruir mais da voz deste que, na minha opinião, foi um dos maiores cantores brasileiros de todos os tempos. Meu projeto de vida é dar continuidade ao meu sonho de divulgar e difundir cada vez mais o espírito do caipirismo vale paraíbano; não pela repetição das velhas formas e sim pelo potencial que esse Universo cultural oferece para que, como sempre, a música brasileira avance em direção ao futuro, coerente com a evolução, naturalmente moderna.

Redação Chico da Boleia

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