Dez viagens para malucos do volante

Um caribu cruza a Dalton Highway, também chamada de Haul Road, no Alasca. / PATRICK J. ENDRES

Para descobrir certas estradas, é melhor afivelar bem o cinto antes de pegar o volante. Prudência e uma boa dose de valentia são o equipamento imprescindível para desbravar essas rotas aptas somente para malucos do volante. Essas são algumas das estradas mais alucinantes do mundo.

01 – Aventura no limite: Karakorum Highway

PAQUISTÃO

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Ônibus turísticos circulando pela Karakorum Highway em direção a Rawalpindi, no Paquistão. / JONATHAN BLAIR

Os motoristas viciados no perigo conhecem muito bem a mítica rota de Karakorum. Não são os primeiros: os seres humanos andam pelo vale do Indo há milênios, utilizando essa parte da Rota da Seda para trocar mercadorias e ideologias entre Oriente e Ocidente. E é um terreno realmente difícil de atravessar. Como estrada é mais moderna: em 1986 obras de engenharia modernizaram esse caminho milenar e a estrada de Karakorum foi inaugurada (1.200 quilômetros), que conecta Islamabad com Kasgar, na China, através das cordilheiras de Karakorum, Himalaia e Hindu Kush. É um trajeto assombroso. Existem buracos, deslizamentos de terra e despenhadeiros; velhos caminhões desengonçados que passam do lado; bloqueios de estrada e bandidos… mas é sem dúvida uma das experiências ao volante mais difíceis de se esquecer.

Dirigir de Islamabad para Gilgit dura entre 12 e 18 horas.

02 – A Rodovia Transiberiana

RÚSSIA

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Vista da ponte de Friz-Sedanka sobre a baia de Bay, nas proximidades de Vladivostok, na Rússia. / YURI SMITYUK

Oficialmente, existe uma disputa entre australianos e canadenses sobre qual é a estrada mais longa: os ‘aussies’ acham que é a sua Highway 1, enquanto os canadenses asseguram que é a Trans-Canada Highway, ainda que ambos deveriam considerar seriamente a rede de estradas que ligam São Petersburgo, no Báltico, com Vladivostok, no mar do Japão, um total de mais de 11.000 quilômetros em linha reta. Não resta dúvida de que a Transiberiana é, provavelmente, a rota que dá mais medo ao condutor, por mais experimentado que seja. Alguns pedaços de terra tornam-se pantanosos no verão e congelam no inverno; em certas partes, as populações são escassas e entre umas e outras existem grandes extensões de um nada desolador.

Os motoristas independentes que se atreverem a percorrê-la devem ir bem preparados: levar combustível extra, um estepe para reposição, comida, água e uma barraca.

03 – Um percurso épico: Dalton Highway

ALASCA

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Um caminhão circulando no inverno pela James Dalton Highway, no Alasca. / ROLF HICKER

Os caminhoneiros do norte do Alasca não têm fama de covardes, mas até mesmo eles admitem que a Dalton Highway é perigosa. Essa rota de 665 quilômetros vai do norte de Farbanks até a cidade de Deadhorse, bem perto do Oceano Ártico; sem paradas, leva 13 horas em cada sentido. Ao longo do caminho encontraremos refúgios da fauna (com alces, caribus e ursos pardos) e vistas assombrosas, como Finger Mountais (na milha 98) e Gobbler’s Knob (na milha 132). Mas tudo é muito remoto e inóspito. Não existem telefones nem hospitais e as pessoas são raras: uma aventura épica para amantes das aventuras extremas.

Poucas empresas de aluguel de carro permitem que seus veículos andem na Dalton Highway. Para preparar a viagem, é possível consultar o site www.blm.gov/ak/dalton

04 – América de norte a sul: a grande Pan-americana

DO ALASCA ATÉ A ARGENTINA

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Um pedaço da estrada Pan-americana na região do deserto de Nazca, no Peru. / LINDA WHITWAM

Dois continentes, 18 países e 47.000 quilômetros: mais que uma viagem por estradas, é um projeto para toda uma vida. A rede de estradas conhecida como Pan-Americana estende-se desde o longínquo norte do Alasca até Ushuaia, a cidade mais austral, na Argentina. Percorre a tundra ártica, as Rochosas, o deserto do Novo México, a selva maia, o Amazonas, os Andes, os picos da Patagônia… Ainda que possua um problema: a estrada é interrompida na impenetrável selva do Darién, no Panamá; o chamado Tampão de Darién. A parte sul-americana recomeça na Colômbia, 160 quilômetros mais ao sul. Completar a Pan-americana é um desses desafios que os grandes viajantes colocam especialmente no check-list de grandes viagens que é preciso fazer, pelo menos, uma vez na vida.

Existem ônibus que percorrem grande parte da Pan-americana.

05 – Atravessando o Outback: Gibb River Road

AUSTRÁLIA

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Um jipe atravessando a região de Kimberley, em pleno ‘outback’ australiano, através da Gibb River Road. / DAVID SAMUEL ROBBINS

Fazendas de gado tão grandes como países, crocodilos que tomam sol junto com os billabongs, comunidades indígenas espalhadas pelo mato, estradas acidentadas de terra que devoram pneus como se fossem café da manhã… A Gibb River Road é o outback australiano em sua versão mais crua e clássica. É uma forma incrível para descobrir a vasta extensão de Kimberley. Ainda que seja necessário tomar precauções, até mesmo um novato pode completar em um bom 4×4 esse percurso de 660 quilômetros que atravessa essa região de Derby até as proximidades de Kununurra. Existem vaus de rios a cruzar e trens a evitar, mas também banhos refrescantes, arte rupestre aborígene, cangurus e wallabies como companheiros de paisagem, assim como ranchos acolhedores que oferecem um combustível imprescindível: camas e cervejas geladas.

A estrada é impraticável de novembro a março. É recomendável utilizar um jipe e levar dois pneus de reposição.

06 – A trepidante estrada dos trolls

TROLLSTIGEN (NORUEGA)

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Turistas contemplando a chamada estrada dos trolls (Trollstigen), en Romsdal (Noruega). / DOUGLAS PEARSON

Acelerar pelo vale de Trollstigen é tão espetacular que poderia ser o caminho para chegar de carro ao reino dos deuses nórdicos, Asgard. Por esse mundo fantástico de despenhadeiros de granito e cascatas de contos de fada, serpenteia a estrada do Troll, um asfalto sinuoso e escorregadio com um desnível de 9% e onze curvas muito fechadas que a tornam uma das conduções mais épicas da Europa. A imagem de suas curvas quase impossíveis aparecem sempre nas listas das estradas mais difíceis do mundo. Começou a funcionar em 1936 e desde então é uma das grandes atrações turísticas do país. É impraticável no inverno; em geral, a estrada só está aberta para carros de maio a outubro, em função das nevascas, e, talvez, do capricho dos deuses. Ao longo da estrada existem seis mirantes panorâmicos e áreas de descanso nos quais as fotografias espetaculares estão mais do que garantidas.

Trollstigen está a seis horas de carro de Oslo e quatro a partir de Trondheim. O trem panorâmico Rauma vai até a localidade próxima de Andalsnes.

07 – O tortuoso caminho do sul: Sani Pass

ÁFRICA DO SUL E LESOTO

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Vista do Sani Pass, nas montanhas Drakensberg, fronteira entre a África do Sul e o pequeno reino do Lesoto. / NIELS VAN GIJN

Essa é uma viagem por uma estrada realmente alucinante, mas talvez perigosa, pois não tirou tantas vidas à toa. Existem planos para melhorar a tortuosa estrada de cascalho com 27 curvas e 9 quilômetros de extensão que leva das Drakensberg Mountains da África do Sul ao interior do diminuto reino do Lesoto, algo que facilitará a passagem de fronteira, ainda que provavelmente não agradará tanto os passageiros. Por acaso uma agradável e bem cuidada pista de asfalto oferecerá o mesmo atrativo aos aventureiros? Mas é preciso olhar pelo lado positivo: a melhora não eliminará seus grandes atrativos para os malucos do volante, pois o bar mais alto da África, a 2.874 metros, continuará esperando, lá em cima. Essa é uma dessas estradas que os fabricantes de jipes utilizam para gravar suas propagandas. O espetáculo está servido.

O Sani Pass está 80 quilômetros a oeste do aeroporto de Durban. Atualmente, é preciso um jipe para chegar à passagem.

08 – O caminho da morte

BOLÍVIA

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A estrada dos Yungas, na Bolívia, conhecida como o caminho da morte. / MICHAEL BOYNY

Essa estrada tem muitos apelidos, mas o mais aterrorizante de todos é o caminho da morte. De fato, tem a fama de mais perigosa do mundo, graças a sua improvável geografia: liga a capital, La Paz, a 3.660 metros de altitude, com Coroico, a 1.200, em somente 60 quilômetros, através da passagem La Cumbre (4.650 metros). E ainda há mais: essa trepidante e suicida descida pelas ladeiras da cordilheira oriental, no meio da névoa, só tem 3,5 metros de largura: de um lado, rocha pura; do outro, o precipício do vale. Pode ser feita de ônibus ou de bicicleta, o meio mais popular.

O chamado Caminho dos Yungas foi construído por prisioneiros paraguaios da Guerra do Chaco nos anos trinta e é uma das poucas rotas que conectam a floresta amazônica do norte do país com a capital. Atualmente, existe uma estrada mais moderna e segura que substitui esse itinerário, mas o setor mais antigo e perigoso é utilizado principalmente para ciclismo de montanha.

As viagens de bicicleta de La Paz a Coroico/Yolosa incluem de quatro a cinco horas de pedalada (90% montanha abaixo); o caminho de volta para La Paz dura de três a quatro horas.

09 – Pelo túnel de Guoliang

HENAN (CHINA)

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Turistas caminhando pela estrada do túnel de Guoliang, feita na montanha de Wanxian, na província chinesa de Henan. / CORBIS

Em 1972, os aldeãos da isolada Guoliang decidiram fazer um túnel nas montanas de Taihang para conectar-se com o mundo. Tristemente, vários perderam a vida no processo, mas continuaram trabalhando e em 1977 a circulação dessa passagem de 1,2 quilômetros, 4 metros de largura e 5 de altura foi finalmente aberta. É uma verdadeira façanha, e para verificar isso só é preciso contemplar as visões vertiginosas do abismo a partir de suas 30 janelas. Entretanto, vale a pena arriscar-se a subir de carro ou andando. A mesma aldeia de Guoliang é um atrativo conjunto de pontes de pedra e ruelas, com passeios espetaculares por colinas que antes eram inacessíveis.

Guoliang está 120 quilômetros ao norte de Zhengzhou. A estação de trem mais próxima está em Xinxiang; desse ponto os ônibus vão para Huxian e depois para Guoliang.

10 – A estrada mais alta do mundo

LADAKH (ÍNDIA)

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Tráfego intenso na estrada mais alta do mundo, a Leh-Manali Highway, no Himalaia indiano. / ALEX MASI

A altitude média da estrada Leh-Manali supera os 4.000 metros. No Taglang La ela chega na altura máxima, 5.238 metros. De fato, essa é a rota transitável a motor mais alta do mundo porque, para ligar a exuberante e tranquila estação de montanha de Himachal Pradesh com a gélida localidade desértica de Leh en Ladakh, é preciso lutar com os Himalaias ocidentais, passar entre picos nevados e superar passagens altíssimas em uma terra cada vez mais inóspita. Os carros avançam lentamente: leva-se até 20 horas, sem paradas. Mas é preciso fazer o caminho com calma, desfrutando as vistas, os pagodes, as bandeiras de oração e as pessoas que se encontra pelo caminho.

A estrada Leh-Manali só abre de maio ou junho até outubro; existem ônibus e jipes táxis que fazem a rota.

Mais informação em 1000 aventuras únicas e em www.lonelyplanet.es

Fonte: El País / Blog do caminhoneiro

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