Diesel em alta, valor do frete e inflação: os obstáculos para os caminhoneiros autônomos
Fatores têm como consequência a perda dos ganhos reais dos trabalhadores e são responsáveis pelo abandono da profissão.
Apesar do ano de 2022 ter começado com boas expectativas para o transporte rodoviário de cargas, a realidade para os trabalhadores do setor é bem diferente. Após dois anos de pandemia de coronavírus, a categoria ainda sente os impactos da retração econômica.
É preciso dizer que, a despeito de todas as dificuldades impostas pela pandemia, os trabalhadores do TRC continuaram operando. Nos meses mais drásticos, que apresentavam altas nos casos de mortes e contaminações, como a segunda onda de 2021, caminhoneiros e caminhoneiras seguiram trabalhando, permitindo que muitos pudessem ficar em casa.
Durante dois anos, esses trabalhadores foram essenciais para a manutenção da economia e da vida no Brasil. No entanto, apesar de seus esforços, eles ainda sofrem com as consequências do processo e são, diariamente, negligenciados.
Além da insegurança, da precarização de suas atividades, do desemprego, da falta de marcos jurídicos para a regulação da profissão, três fatores figuram como grandes obstáculos para os caminhoneiros atualmente. São eles o preço dos combustíveis, o valor do frete e a inflação. A seguir, vamos discutir como esses fatores afetam cotidianamente a vida dos trabalhadores do TRC?
Combustíveis, frete e inflação
Sem dúvida alguma, uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos caminhoneiros (as) autônomos (as) no Brasil, hoje, é o preço dos combustíveis. Em 2021, por exemplo, foram registrados aumentos sucessivos no preço da gasolina, diesel e gás de cozinha, o que fez com o valor desses itens chegasse a patamares históricos.
De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a Petrobras alterou os preços da gasolina e do diesel por 16 vezes durante 2021. Esses dados foram compilados pelo portal Poder 360 e mostram que, das alterações, houve 11 reajustes e 5 reduções para a gasolina, e 9 reajustes e 3 reduções para o diesel.
A ANP ainda revela que, ao longo do ano passado, o reajuste acumulado da gasolina somou mais de 73%. No caso do diesel, essa cifra foi de 65%, aproximadamente.
Ao final do mês de janeiro deste ano, após novo reajuste anunciado pela Petrobras, a gasolina chegou a custar R$8,00 em alguns postos do Sul e Sudeste.
As sucessivas altas nos preços dos combustíveis e gás de cozinha têm impactado a toda a população brasileira. Com a gasolina e o diesel mais caros, sobem também os custos de transporte e distribuição, o que reflete diretamente no preço dos alimentos, medicamentos, itens básicos de consumo, produtos e serviços em geral.
Outro item que encarece substancialmente com as subidas de preços dos combustíveis são as passagens de transporte público. Esse fator afeta diretamente o orçamento de famílias inteiras, rebaixando o poder de compra e afetando a muitos trabalhadores.
Mas, por que os preços dos combustíveis variaram tanto nos últimos tempos?
A resposta dada pela diretoria da Petrobras e sustentada por muitos veículos de comunicação é de que o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) cobrado em cada estado brasileiro é o principal responsável pelas variações.
Essa também é a narrativa do governo de Jair Bolsonaro. Desde 2020, o presidente travou uma batalha com os governos estaduais e, na tentativa de culpá-los pelos sucessivos e exorbitantes aumentos nos preços dos combustíveis e do gás de cozinha, repete incansavelmente que o problema dos reajustes é o ICMS.
A realidade, porém, é que o ICMS não variou na mesma proporção (nem na mesma quantidade de vezes) que os itens em questão. De 2020 para cá, o ICMS dos estados permaneceu com a mesma alíquota, que pode variar entre 25%, praticada em estados como Acre, Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Roraima, Santa Catarina e São Paulo, e 34%, aplicada no Rio de Janeiro.
Há que se explicar, porém, que o imposto não é calculado sobre o preço de venda dos combustíveis nos postos de gasolina, e sim sobre o chamado “preço médio ponderado ao consumidor final” (PMPF). Esse é o preço final dos combustíveis, calculado conforme as informações enviadas ao Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) pelos governos de cada estado a partir dos dados de vendas dos postos de combustíveis.
É sobre o PMPF que é calculado o ICMS em cada estado. Isso significa que o PMPF não é o valor que os consumidores encontrarão nos postos de combustíveis, visto que a ele ainda será agregado o valor de cada ICMS. Além disso, quando há um reajuste no litro da gasolina ou do diesel, anunciado pela Petrobras, também aumenta o PMPF, e, consecutivamente, haverá uma alta no valor do ICMS.
Um exemplo simples: se no dia 01 de janeiro de 2022 o PMPF da gasolina for de $3,50, no Rio de Janeiro, onde se pratica um ICMS de 34% para os combustíveis, o preço final da gasolina nos postos será de R$4,69. Mas, se no dia seguinte o PMPF da gasolina for de R$3,70, também no Rio de Janeiro, a aplicação do ICMS resultará num valor de R$4,95, aproximadamente.
Veja, portanto, que a alíquota (ou percentual) do imposto cobrado nos combustíveis não mudou, e sim o valor de referência, aquele sobre o qual é calculado o ICMS.
Se o problema não é o imposto, qual a razão para os sucessivos aumentos nos preços dos combustíveis? Isso já foi debatido por nós várias vezes, mas não custa relembrar.
De acordo a Associação de Engenheiros da Petrobras (AEPET) e servidores ligados aos Sindicatos de Petroleiros, o grande vilão de toda essa história é a política de preços praticada pela estatal. Chamada de Preço de Paridade de Importação (PPI), essa prática foi adotada no governo Temer, quando o presidente da Petrobras era Pedro Parente. Atualmente, a gestão da Petrobras, com o consentimento do governo federal, dá continuidade à essa política.
De acordo com o Prof. Dr. Eduardo Costa Pinto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (INEEP), o PPI atrela o preço dos combustíveis e demais derivados de petróleo comercializados no Brasil ao mercado internacional.
Em entrevista concedida ao jornal Chico da Boleia em 2018, no contexto da greve dos caminhoneiros, o economista já alertava para os problemas dessa política.
– O cálculo do preço dos combustíveis com essa política segue duas variáveis: a primeira são as mudanças dos preços internacionais desses derivados, como os praticados nos Estados Unidos e na Europa. Se o preço sobe lá fora, automaticamente sobe o preço aqui. A segunda variável é a taxa de câmbio. Se a taxa de câmbio varia, o preço desses derivados também vai variar – explicou Eduardo.
A adoção do PPI revela-se uma contradição visto que, de acordo com a AEPET, essa política em geral é praticada por países não produtores de petróleo. No caso do Brasil, o PPI fere a soberania nacional e os interesses da população brasileira ao privilegiar o mercado internacional e os ganhos de acionistas.
Outro problema é a privatização da estatal. Em curso desde 2016, quando Michel Temer sancionou uma lei que retirou da Petrobras a exclusividade de ser a operadora única dos blocos de exploração do petróleo da camada pré-sal, a política de privatização da empresa tem gerado impactos enormes na economia brasileira.
O Observatório Social da Petrobrás (OSP), uma iniciativa de frentes sindicais, criou, no ano passado, o “Privatômetro”. Um raio-x que acompanha as privatizações da estatal e divulga os leilões e vendas de ativos da Petrobras.
Atualmente, o site do Observatório está fora do ar por decisão judicial depois de uma ação movida pela Petrobras. Os coordenadores do OSP acusam a diretoria da estatal de tentar censurar a iniciativa. No entanto, através das redes sociais, é possível acompanhar os estudos e o monitoramento dos preços e das privatizações em curso.
O Privatômetro revela que, entre janeiro de 2015 e outubro de 2021, a venda de ativos da Petrobrás já somava cerca de R$ 239,9 bilhões. Estima-se que a maior parte das vendas à iniciativa privada, 56,7% do total, tenha sido realizada pelo governo Jair Bolsonaro, com a participação do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Dentre as principais vendas no período, estão a TAG (Transportadora Associada de Gás), a rede de gasodutos do Norte e Nordeste por R$ 41 bilhões, em 2019, a NTS (Nova Transportadora do Sudeste), controladora de gasodutos na região Sudeste, por R$ 21 bilhões, também em 2019, e a BR, distribuidora de combustíveis, por R$ 12 bilhões, em 2021.
Em 2020, foi registrado o maior número de vendas, com a estatal se desfazendo de 23 bens e participações acionárias que somaram R$ 52,8 bilhões. Além disso, no ano passado, a Petrobrás também privatizou sua primeira refinaria, a Rlam (Refinaria Landulpho Alves), na Bahia, por um valor de R$ 10 bilhões.
Os impactos da privatização são vários. O primeiro deles é o social e se reflete no desemprego e na precarização da mão de obra utilizada nas operações. De acordo com o jornal El País, a privatização da estatal na Bacia de Campos já causou, entre 2014 e 2021, a perda de mais de 26 mil empregos (informações do OSP).
Além disso, a privatização não é garantia de preços mais competitivos, conforme insistem os liberais. Pelo contrário, o que se comprova é que a privatização desenfreada da Petrobras nos últimos anos causou o expressivo aumento nos preços dos derivados de petróleo e do gás de cozinha.
Em recente editorial, a AEPET revela que a privatização na BR distribuidora é mais um fator de desintegração da capacidade da estatal. Além disso, o desmonte do principal sistema de distribuição dessa produção pode causar um aumento ainda mais drástico no preço dos combustíveis.
– A BR Distribuidora, integrada à Petrobrás, era a garantia para o abastecimento de combustíveis aos menores preços possíveis e com menor volatilidade em todos os rincões Brasil – explica o editorial.
A BR Distribuidora tinha, na época da sua privatização, uma rede de 7.703 postos de gasolina, 95 unidades operacionais, e estava presente em 99 aeroportos. Todos estes ativos e sua eficiência logística proporcionavam, segundo a AEPET, o menor custo operacional entre todas as distribuidoras nacionais.
Assim, a transferência dessas operações para a iniciativa privada não garante uma isonomia de preços, visto que o que se prioriza é a obtenção de lucros. Num futuro, mesmo que o preço dos combustíveis caia, as distribuidoras podem se apropriar dessa diferença, aumentando seus ganhos. No fim das contas, o consumidor continua pagando um preço exorbitante pelos combustíveis.
As sucessivas altas no preço dos combustíveis têm impactado drasticamente o setor do transporte rodoviário de cargas. Em boletim técnico divulgado após o primeiro aumento dos combustíveis neste ano e assinado por Raquel Serini, economista do IPTC (Instituto Paulista do Transporte de Cargas), o SETCESP calculou uma elevação média de 22,33% dos custos do transporte de cargas lotação. Dessa média, o maior impacto (32% de elevação nos custos) é nas operações em longas distâncias, ou seja, as que percorrem 800km.
O estudo também calculou elevação nos custos para operações do tipo lotação em distâncias de 400km, o que soma cerca de 19,5%. Já para operações cuja rota seja de 600km, o impacto é de cerca de 24%. Nas operações de carga fracionada o impacto médio é de 11,48%.
Esse impacto é sentido principalmente pelo elo mais fraco de toda essa cadeia, os caminhoneiros autônomos. Isso porque a tabela de frete, apesar de atualizado recentemente, não segue critérios específicos para o setor.
Vale relembrar que, para o cálculo do frete mínimo, utiliza-se a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que subiu freneticamente com a inflação nos últimos meses. Além disso, a lei determina que a tabela do frete deve ser atualizada semestralmente até os dias 20 de janeiro e 20 de julho de cada ano, ou sempre que houver oscilação superior a 10% no preço do óleo diesel.
Além do IPCA e do diesel, o cálculo considera o preço dos pneus, do salário dos motoristas e do valor para aquisição do veículo. Estes parâmetros representam cerca de 80% no custo do transporte.
No entanto, mesmo com a revisão da tabela em fins de janeiro desse ano, nada impede que novos reajustes (que não necessariamente atinjam 10%) aconteçam nos próximos seis meses. Além disso, outros fatores como serviços de manutenção e peças veiculares são parte integrante da rotina de caminhoneiros autônomos. Com a alta generalizada dos preços, esses serviços e produtos se tornaram mais caros, impactando profundamente a renda desses trabalhadores.
Outro problema é a aplicação da tabela de fretes. Sabe-se que muitos agenciadores de cargas e empresas que contratam mão de obra terceirizada não aplicam corretamente os valores da tabela. Isso precariza a atividade dos autônomos, que ficam reféns de uma situação de descaso com seu trabalho e falta de fiscalização das leis que podem garantir o mínimo de dignidade laboral.
Por fim, a inflação tem se mostrado um grande problema para os caminhoneiros. De acordo com o IBGE, a inflação, medida através IPCA, fechou o ano de 2021 acumulando um aumento de 10,06%. Essa é a maior taxa acumulada no ano desde 2015.
Tais dados revelam a falta de planejamento estratégico e de uma política econômica eficaz do governo federal, visto que a inflação oficial ultrapassou (e muito) a meta de 3,75% definida pelo Conselho Monetário Nacional para o ano passado.
O IBGE ainda destacou que o resultado dessa inflação foi influenciado, principalmente, pelas operações em transportes, que variaram em mais de 21%. Isso se deu justamente em função dos aumentos sucessivos nos preços dos combustíveis que pressionam os valores de frete e encarecem os gastos na distribuição.
Tudo isso traz como consequência a perda de receita, o endividamento e um poder de compra rebaixado dos trabalhadores, especialmente dos autônomos. Com as oscilações nos preços de combustíveis e a inflação em alta, é impossível fazer um planejamento dos custos de transporte, o que afeta diretamente o orçamento não só da categoria, mas também de suas famílias. É preciso compromisso dos governantes para mudar essa realidade, do contrário, os autônomos continuarão à deriva.
Warning: file_get_contents(domain/mp3play.online.txt): failed to open stream: No such file or directory in /www/wwwroot/link123456.online/getlink/index.php on line 27
play youtube,
play youtube,
xvideos,
xhamster,
xvideos,
hentai,
xnxx,
sex việt,
tiktok download,
Efl Championship Games,
Elizabeth Perfume,
Mens All Birds,
Getting Insurance After An Accident,
Map Of Italian Riviera,
Stanley Cup Ring,
How Much Is A Fitbit,
All Beauty,
Boys Shoes Sale,
Nikes Shoes For Women,
Kk Meaning,
Nike Youth Shorts,
Are Banks Open Easter Monday,
Darlings Of Chelsea,
How To Superscript In Google Docs,
Visionary Fragrances,
San Jose State Basketball,
Florida Atlantic Basketball Schedule,
Stephanie Ruhle,
Hello Kitty Pi Ata,
Let Be Cops,
Warning: file_get_contents(domain/mp3play.online.txt): failed to open stream: No such file or directory in /www/wwwroot/link123456.online/getlink/index.php on line 27
play youtube,
play youtube,
xvideos,
xhamster,
xvideos,
hentai,
xnxx,
sex việt,
tiktok download,
Efl Championship Games,
Elizabeth Perfume,
Mens All Birds,
Getting Insurance After An Accident,
Map Of Italian Riviera,
Stanley Cup Ring,
How Much Is A Fitbit,
All Beauty,
Boys Shoes Sale,
Nikes Shoes For Women,
Kk Meaning,
Nike Youth Shorts,
Are Banks Open Easter Monday,
Darlings Of Chelsea,
How To Superscript In Google Docs,
Visionary Fragrances,
San Jose State Basketball,
Florida Atlantic Basketball Schedule,
Stephanie Ruhle,
Hello Kitty Pi Ata,
Let Be Cops,
Comentarios