Fetransrio debate cenário econômico e político no pós-eleicão.

A 10a edição da Fetransrio, evento conjunto com a 16a Etransport, inaugurou suas atividades nesta quarta-feira (5) e apresenta todas as novidades do setor de transporte de passageiros até a sexta-feira. Os expositores estão distribuídos entre os pavilhões 3 e 5 do Rio Centro, na cidade do Rio de Janeiro.

Além das novidades em serviços e produtos, o público pode conferir palestras e debates sobre os mais variados temas como segurança no trânsito, mobilidade e sustentabilidade. No primeiro dia de evento, discutiu-se a prevenção de acidentes envolvendo ciclistas, motociclistas e pedestres, além do uso de álcool e drogas no trânsito e os níveis de acidentes causados por tal realidade.

A principal palestra do dia foi ministrada por Carlos Alberto Sardenberg, jornalista da Tv Globo e da rádio CBN. Com a apresentação “Brasil, como chegamos até aqui? Como voltamos a crescer?”, o palestrante iniciou sua fala frisando que a atual situação política e econômica exige dos representantes políticos “muita imaginação” para buscar alternativas e restabelecer os níveis de crescimento experimentados nos últimos anos.

Sardenberg também falou sobre o contexto no qual o Brasil atingiu seu ápice econômico e político. Para ele, esse momento abarca os anos de 1994 a 2006 e algumas questões resolutivas fundamentais na política econômica do país. “Tivemos nesse período a estabilização macroeconômica, reformas microeconômicas, salário mínimo e programas sociais, além de um bônus demográfico. Essas reformas de 1994 até o final do primeiro mandato do Lula foram reformas notáveis que transformaram o Brasil em um país sério e confiante aos olhos de investidores internacionais”, frisou.

Ganhos em termos de investimento externo no Brasil, regime de metas da inflação com Banco Central independente, responsabilidade fiscal, câmbio flutuante, privatizações dos bancos estaduais seguido de reforma do sistema financeiro, reformas microeconômicas, programas sociais e política de incremento do salário mínimo, foram algumas das caraterísticas fundamentais desse período, de acordo com o palestrante.

O segundo fator que beneficiou o grande crescimento da economia brasileira nos últimos anos foi a influência causada pelo crescimento da China. “Se no início dos anos 2000 a gente exportava 1 bilhão em média para a China, hoje exportamos mais de 40 bilhões, sendo que os preços dos itens também subiram no período”.

Sardenberg explicou que isso se deu, basicamente, pelo fato de que a China passou a ser um dos maiores exportadores de bens industrializados do mundo, o que acarretou uma “inversão dos termos de troca”. Ele explica o fenômeno pelo fato de que as exportações de commodities e minérios cresceram grandiosamente nos últimos anos.

“Hoje, a China é o maior importador da América Latina, porque é daqui que saem bens como carne, matérias primas primárias como cobre, etc. O aumento no valor das exportações fez com que nossa reserva aumentasse em detrimento da dívida pública externa”, explicou Sardenberg que também salientou que esse crescimento foi acompanhado de uma série de medidas legislativas sobre crédito, investimento, obras públicas, entre outros.

O palestrante também falou sobre a crise mundial de 2008/2009, salientado que ela foi, em grande medida, causada pelo setor financeiro. “Alguns bancos grandes do mundo inteiro só não fecharam porque o governo deu um suporte. As famílias, as empresas e os bancos estavam endividados devido à quantidade de empréstimos. Naquele momento, esse endividamento causou uma explosão da bolha”, ressaltou.

O momento posterior a essa explosão da dívida de alguns países foi sucedido por um momento de reajuste de contas. “No Brasil, no entanto, não sentimos os grandes efeitos da crise, já que havíamos aumentado nossas reservas. Tanto o Brasil quanto outros países emergentes como Chile, por exemplo, foram os menos afetados por essa crise”.

No entanto, Sardenberg aponta que o modelo econômico adotado pelo Brasil vive um esgotamento. “Não podíamos mais apostar na ideia de que se resolve a crise aumentando o crédito, o consumo e o gasto público”, analisou. De acordo com o palestrante, essa opção foi errada porque o governo tentou soltar o dólar, aumentar o crédito e o investimento, o que causou inflação e déficit público. “A um determinado momento o salto do crédito funciona, mas isso tem um limite, porque causa endividamento público”, completou.

“É impossível continuar crescendo como estávamos. A opção por continuar a estimular o crédito decresceu a economia. Ao tentar controlar tudo ao mesmo tempo (crédito, dólar e juros) desequilibramos o sistema”, explicou.

No entanto, outros economistas e observadores consideram que o endividamento público é, na verdade, investimento em áreas fundamentais da sociedade como a consolidação de empresas públicas, a saúde, transporte, educação, entre outros.

O momento atual deverá mostrar uma discussão para se definir qual política econômica será adotada daqui pra frente. Para Sardenberg, existem duas possibilidades. A primeira delas é que seja adotada a mesma estratégia do primeiro mandato de Luís Inácio Lula da Silva que nomeou Henrique Meirelles, ex-presidente mundial do Bank Boston como presidente do Banco Central e lhe deu autonomia de atuação.

Na época, Meirelles adotou uma série de medidas ortodoxas em relação a economia, como a aplicação de juros mais altos para controlar a inflação e a redução de gasto público.

No entanto, as promessas de campanha da presidenta reeleita Dilma Rousseff mostram que outro caminho pode ser adotado, já que ela se propôs a continuar investindo em áreas como saúde, educação, programas sociais, infraestrutura e transporte, o que tende a aumentar os gastos públicos. Além disso, Dilma quer uma política mais centralizadora que, do ponto de vista social e político, pode significar maiores benefícios para áreas fundamentais para a população e o fortalecimento do setor público.

Sardenberg ainda disse que existe um consenso: “Precisamos lidar seriamente com a inflação e com as contas públicas”. De acordo com o palestrante o melhor jeito de fazer isso, para não jogar o país na recessão, é aumentar o gasto no setor privado. “Temos que aumentar investimentos, aumentar exportação e reduzir os gastos para produção, para que se produza e se venda mais do que se importe. Temos que reformar o sistema tributário, facilitar a vida dos empresários e fazer um monte de privatizações. Está provado que quando os governos se metem a fazer esse tipo de obra sai caro, demorado e roubado”, opinou.

As opiniões do jornalista atestam o que todo mundo já sabia, ou seja, é urgente que sejam tomadas medidas para impulsionar a economia, reduzir os juros e a inflação. Mas optar por favorecer o setor privado em detrimento do setor público, quer dizer, os empresários em detrimento da população em geral, pode ser uma falácia do ponto de vista social e, consequentemente, econômico, já que, por mais que queiram os grandes empresários e banqueiros, um fator não está descolado do outro. Afinal, a economia busca números objetivos, mas alguns dos fatores que influenciam na sua queda ou crescimento são totalmente subjetivos como bem estar social, confiança no mercado e intenções de compra/investimento.

Talvez seja o momento do Brasil investir ainda mais em serviços públicos, controlar com mais seriedade as privatizações e pensar qual a melhor opção para impulsionar a industrialização buscando um equilíbrio entre a participação pública e as concessões de benefícios ao setor privado.

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