Marca diversifica produtos para manter liderança de seis anos no país
A Iveco apresentou na Argentina sua nova linha de caminhões Ecoline Euro 5, que começa a ser vendida no partir de janeiro de 2016 para atender a legislação de emissões local que só agora, com dois anos de atraso em relação ao que estava previsto, vai se equiparar à norma já adotada no Brasil desde 2012. Contudo, ao contrário do que aconteceu no mercado brasileiro, quando a pré-compra de veículos Euro 3 mais baratos gerou recorde de vendas em 2011 e um buraco no ano seguinte, para os argentinos a situação parece mais calma, pois até o momento não houve grande corrida às compras e 2015 deverá fechar perto de 26 mil unidades vendidas, ainda bastante longe do recorde de 35 mil em 2013.
“Com os aumentos de preço que a nova tecnologia traz, esperamos em 2016 por queda de 15% a 20%”, estima Sebastián Macias, diretor comercial da Iveco Argentina, que deve terminar 2015 em seu sexto ano seguido de liderança no mercado argentino, com participação de quase 25%. “Mas é uma previsão difícil, pois tudo depende bastante da política econômica a ser adotada pelo novo governo recém-eleito”, ressalva.
No país vizinho a marca está bem melhor posicionada do que a concorrência, pois é de longe a maior fabricante de caminhões da Argentina e produz a maior parte dos modelos que vende. Com isso, espera-se que seus negócios caiam menos do que os outros competidores em 2016.
A Iveco é hoje na Argentina tudo que queria ser no Brasil, onde suas vendas já caíram quase 50% este ano, para cerca de 4 mil caminhões emplacados de janeiro a novembro, com market share em torno de 6%, apesar de também manter uma linha completa de produtos no mercado brasileiro.
FÁBRICA E LINHA AMPLA
São manufaturadas na planta de Ferreyra, em Córdoba, os semipesados Tector e os pesados Trakker, Cursor e Stralis, que somam metade das vendas da Iveco na Argentina. Também são feitos no mesmo complexo industrial os seus motores NEF e Cursor, fabricados pela FPT, também integrante do mesmo grupo CNH Industrial. A linha de motores exporta mais de 80% de sua produção, principalmente ao Brasil; e na mão contrária, da unidade brasileira em Sete Lagoas (MG), são importados ao mercado argentino os leves Daily e médios Vertis, e agora também o extrapesado topo de linha Stralis Hi-Way. A fábrica argentina opera desde 1969 e atualmente tem capacidade para montar 15 mil caminhões/ano, mais que o dobro da necessidade atual, já contando com poucas exportações para Uruguai e Paraguai.
“A Argentina ainda tem um longo caminho para acertar questões econômicas com inflação e câmbio, mas estamos no país faz tempo e acreditamos que o mercado vai melhorar. Estamos muito positivos com as perspectivas que se abrem com o novo governo do (recém-eleito) presidente Mauricio Macri”, avalia Vilmar Fistarol, presidente da CNH Industrial América Latina. “O fato de já produzir caminhões Euro 5 no Brasil e Argentina nos dá ganhos de escala que ajudam a aumentar a competitividade. Com o câmbio no nível que está poderemos voltar a usar nossa capacidade instalada na região para voltar a exportar, pois temos uma linha hoje muito atualizada, com a melhor tecnologia conhecida”, acrescenta.
Marco Borba, vice-presidente da Iveco América Latina, avalia que ainda levará mais tempo para a fábrica argentina voltar a exportar mais: “Neste momento o Brasil está melhor posicionado para isso”, pontua. Segundo Borba, as trocas comerciais entre os dois países deverão continuar no mesmo nível. O extrapesado Stralis Hi-Way deverá continuar a ser fornecido pela fábrica brasileira. “Por enquanto o volume é muito baixo para produzir em Córdoba, mas se a demanda justificar poderemos fazer no futuro”, diz o executivo.
Ao menos o mercado doméstico argentino está bastante bem dominado. Com o portfólio de caminhões mais amplo e grande capacidade interna de produção, a liderança deverá ser defendida sem grandes dificuldades. “Aproveitamos a mudança de legislação para modernizar e reconfigurar toda a linha de produtos. Teremos mais versões para participar de segmentos que antes não tínhamos penetração”, diz o diretor comercial Macias.
A maior ampliação de gama acontece na linha de pesados, que cresceu para cima e para baixo. Com a chegada do Stralis Hi-Way de 560 cavalos a Iveco passa a oferecer opções de caminhões acima dos 480 cavalos, que corresponde a 10% do mercado de modelos pesados na Argentina. E com a nova versão do Stralis de 360 cavalos, também passa a ter oferta na faixa de baixo, de 340 a 400 cavalos, que representa 50% das vendas do segmento na Argentina. “Antes só participávamos de 40% deste segmento, como modelos de 400 a 480 cavalos. Agora cobrimos 100%”, destaca Macias.
Outra vantagem de se ter no portfólio o maior número de veículos fabricados no próprio país é o acesso ao financiamento do Banco de la Nación, exclusivo para caminhões nacionais. A linha responde por 20% das vendas, com taxas subsidiadas pelo governo de 13,5% ao ano (contra inflação de quase 30%), cinco anos para pagar e possibilidade de financiar até 70% do valor do bem. Outros 30% dos negócios são financiados por bancos em geral e 15% são por meio de plano próprio da Iveco com parcelamento de 12 meses com cheques pré-datados. Os 35% restantes são pagos à vista – por falta de aplicações financeiras que cubram totalmente a inflação, na Argentina é comum o investimento em bens.
ESTRATÉGIA DE LIDERANÇA
Apesar da longa presença de 46 anos produzindo caminhões na Argentina, até pouco tempo a Iveco não era percebida como fabricante nacional e tinha participação de mercado bem mais tímida, que variava de 11% a 15%. “Em 2008 começamos a mudar isso. Como maior fábrica de caminhões do país precisávamos tirar proveito disso. Foi quando começamos a mudar o portfólio de produtos para adequá-lo ao mercado. Nos demos conta de que oferecíamos muito mais do que o cliente precisava, havia modelos demais com opcionais demais”, conta Macias.
“Trabalhamos com a engenharia local e do Brasil também para simplificar produtos. Nas linhas mais procuradas, na faixa de 200 a 250 cavalos, lançamos versões de entrada, para atrair aqueles clientes que tinham caminhões velhos, que pagam menos para depois migrar pouco a pouco para versões mais caras”, diz o executivo. Ele explica que assim a Iveco atacou o segmento que move 70% da economia argentina e conquistou a liderança a partir de 2010, com porcentual crescente que chega agora a quase um quarto das vendas do mercado.
Como a maior parte do país é plana, caminhões de média potência são os mais procurados. “Nessa faixa 70% das vendas são das versões de baixo custo e 30% das mais caras, enquanto para veículos acima dos 300 cavalos essa proporção se inverte”, diz o executivo.
Na Argentina, metade das vendas da Iveco é das linhas de modelos leves Daily e médios Vertis. Os outros 50% são justamente os fabricados no país, sendo 70% deles em versões de entrada, mais baratas.
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