Mais de 18 milhões de mulheres foram vítimas de violência ou agressão em 2022
Levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que, nos últimos 12 meses, 50.962 mulheres sofreram violência diariamente no país, o equivalente a um estádio lotado
Redação Chico da Boleia
Dados da quarta edição do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelam que houve crescimento da violência contra a mulher no país, em 2022. Por meio da pesquisa “Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil”, os número inéditos destacam que as diferentes formas de violência física, sexual e psicológica sofridas pela população feminina com 16 anos ou mais, apresentaram crescimento, quando comparados aos levantamentos anteriores.
De acordo com o documento, 28,9% das mulheres foram vítimas de algum tipo de violência ou agressão em 2022, ou seja, cerca de 18,6 milhões de brasileiras. Os índices alarmantes ainda revelam que, das violências cometidas, 23,1% foram verbais (14,9 milhões); 13,5% perseguições (8,7 milhões); 11,6% chutes e socos (7,6 milhões, ou 14 mulheres agredidas por minuto); 5,4% espancamento ou tentativa de estrangulamento (3,5 milhões); e 5,1% ameaça com faca ou arma de fogo (3,3 milhões).
O estudo ainda revela que, no ano passado, 50.962 mulheres sofreram violência diariamente, o equivalente a um estádio lotado.
O que teria provocado o aumento acentuado de tais crimes contra a população feminina no país?
Como explica o documento elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança, alguns dos principais fatores são:
– A falta de financiamento de políticas de enfrentamento à violência contra a mulher por parte do Governo Federal nos últimos quatro anos (problema já identificado em outras edições).
Segundo o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), em 2022 ocorreu a menor alocação orçamentária para o enfrentamento da violência contra mulheres em uma década. Sem recursos financeiros, materiais e humanos não se faz política pública.
– Outro fator crucial para o aumento de casos de violência foi a pandemia provocada pela Covid-19, que comprometeu o funcionamento de serviços de acolhimento às mulheres em situação de violência. “A restrição nos horários de circulação impostas pelas necessárias medidas de isolamento social e a redução das equipes de atendimento foram fatores que afetaram em algum grau os serviços de saúde, assistência social, segurança e acesso à justiça em todo país”, destaca o documento.
– A ação e envolvimento político de movimentos ultraconservadores, que se intensificaram nos últimos anos, e a escolha por combater temas como igualdade de gênero também provocou o aumento da violência contra a população feminina.
“O movimento Escola sem Partido, por exemplo, incluiu o assunto em sua abordagem em 2011, o que vem sendo feito através da intimidação a professores e proposição de projetos de lei que atacam a inclusão de questões relativas à igualdade de gênero, raça e sexualidade nos conteúdos escolares (Ação educativa, Cenpec, 2022)”, ressalta o FBSP.
Os dados oficiais servem também para corroborar a percepção da própria população: 65,2% dos brasileiros acham que a violência contra a mulher aumentou no ano passado, e 52% relatam ter presenciado algum tipo de agressão ou situação de violência no mesmo período.
Quem são as vítimas, seus agressores e onde ocorrem os crimes?
Outro dado alarmante apontado pela pesquisa revela que as principais vítimas de tais crimes são mulheres negras (65,6%), seguidas por brancas (29%), amarelas (2,3%) e indígenas (3%).
Com relação à faixa etária, o maior público afetado é de mulheres com 16 a 24 anos de idade (30,3%). As com 25 a 34 anos ficam em segundo lugar (22,8%). Logo após estão as vítimas com 35 a 44 anos (20,6%); 45 a 59 anos (17,1%); e acima dos 60 anos (9,2%).
Ainda de acordo com a pesquisa, pela primeira vez o ex-parceiro aparece como principal agressor. Os dados revelam que 31,3% dos responsáveis pelos atos de violência contra as mulheres são ex-cônjuges, ex-companheiros e/ou ex-namorados; 26,7% são cônjuges, companheiros e/ou namorados; e 8,4% são pais ou mães.
Apesar dos números permanecerem altos, é possível identificar que cada vez mais as pessoas estão intervindo em casos nos quais os parceiros íntimos agridem verbalmente ou fisicamente sua companheira, principalmente na rua ou ambiente de trabalho.
O local onde a violência contra as mulheres mais ocorre continua sendo a própria residência da vítima (53,8% dos casos), seguido pela rua (17,6%) e o trabalho (4,7%).
Formas de violência sofridas nos últimos 12 meses
O levantamento do FBSP aponta que 28,9% das mulheres relatam ter sido vítima de algum tipo de violência ou agressão em 2022, “a maior prevalência já verificada na série histórica”. Quando comparada a última pesquisa o aumento foi de 4,5 pontos percentuais, o que mostra o agravamento das violências sofridas pelas brasileiras.
O número de assédios também apresentou crescimento no ano passado, 46,7% das mulheres (30 milhões) afirma ter sofrido cantadas, comentários desrespeitosos na rua ou ambiente de trabalho, foram assediadas fisicamente no transporte público ou ainda abordadas de maneira agressiva em uma festa, por exemplo.
Com relação às formas de violências e/ou agressões cometidas e seu crescimento, foi possível identificar os seguintes índices:
– Insulto, humilhação ou xingamento (ofensa verbal):
2021 – 18,6%
2022 – 23,1%
– Amedrontamento ou perseguição:
2021 – 7,9%
2022 – 13,5%
– Batida, empurrão ou chute:
2021 – 6,3%
2022 – 11,6%
– Ofensa sexual:
2021 – 5,4%
2022 – 9%
– Ameaça com faca ou arma de fogo:
2021 – 3,1%
2022 – 5,1%
– Espancamento ou tentativa de estrangulamento:
2021 – 2,4%
2022 – 5,4%
Entenda quais são os tipos de violência e quem as comete, de acordo com a pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
- Violência provocada por parceiro íntimo: definida como qualquer comportamento no âmbito de uma relação íntima que cause danos físicos, sexuais, psicológicos e comportamentos controladores, durante ou após o término de uma relação (OMS, 2012);
- Violência contra a mulher: constitui qualquer ação ou conduta baseada no gênero que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público, como no privado (Convenção de Belém do Pará, 1994);
- Violência física: qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher. Inclui atos como tapas, socos, chutes e espancamentos (Política Nacional de enfrentamento à violência contra a Mulher, 2011);
- Violência sexual: é a ação que obriga uma pessoa a manter contato sexual, físico ou verbal, ou participar de outras relações sexuais com uso da força, intimidação, coerção, chantagem, suborno, manipulação, ameaça ou qualquer outro mecanismo que anule o limite da vontade pessoal. Constituem violência como relações sexuais forçadas e outras formas de coerção sexual (Política Nacional de enfrentamento à violência contra a Mulher, 2011);
- Violência psicológica: conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima da mulher ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento, ou ainda que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação (Política Nacional de enfrentamento à violência contra a Mulher, 2011).
Para saber mais, acesse https://forumseguranca.org.br.
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