Chico da Boleia esteve em São Paulo para conversar com o recém-empossado Presidente do Setcesp, Tayguara Helou, também o mais jovem a presidir a entidade. Confira a entrevista na íntegra e saiba o que pensa o novo representante do Sindicato que cumpriu 80 anos neste ano.
Chico da Boleia: Tayguara, vamos falar desse primeiro momento. Como é sentir-se presidente desta entidade?
Tayguara Helou: Chico, primeiramente é um prazer conversar com você e falar para todos os seus expectadores e leitores. E, realmente, assumir o Setcesp, a gente sabe que é um desafio, mas isso nos mantem muito motivados, porque dessa forma a gente consegue implementar assuntos importantes para a nossa atividade, preservando nossas empresas, nossos queridos autônomos que prestam serviço pra gente, os nossos agregados, melhorando a cadeia como um todo. E se a gente melhora a cadeia de transporte e logística no Brasil, a gente melhora também a economia brasileira porque nosso comércio e nossa indústria se tornam mais competitivos.
Chico da Boleia: Não há como não falar sobre um fato importante, o Setcesp completou 80 anos e você é um empresário relativamente novo. Com certeza tem empresários mais antigos, como é que eles receberam sua candidatura?
Tayguara Helou: Olha Chico, eu sou um empresário jovem, mas novo eu não sei se podemos dizer. Primeiro porque eu nasci dentro de uma transportadora, o meu pai é fundador da Braspress, que funciona desde 1977, e eu nasci em 1980. E desde pequeno eu ia pra empresa brincar no pátio, ajudar os nossos colaboradores, ajudar o pessoal na plataforma e há 15 anos eu sou empresário com minha próxima empresa, que presta serviço para a nossa companhia e para outras também. Então é um empresário jovem, mas não novo. O que é bom e é positivo, porque nos traz também uma carga de conhecimentos adequados e um pouquinho das novas tendências e do lado acadêmico. Eu me preparei, eu estudei, eu sabia que isso ia contribuir muito, mas a gente tem que ter a consciência sempre e conseguir trabalhar o legado com o novo. O que aconteceu lá atrás é muito importante e não pode ser desprezado, então a gente tem que saber separar essa questão do ser jovem, do que aconteceu lá atrás, e unir o que tiver de melhor nesses dois aspectos. Juntar o que tem de bom no legado, no presente, para pensar no futuro.
Chico da Boleia: Você assume a diretoria do Sindicato num momento diferente no que se refere à economia no país. Nós tivemos 2014 como o ano da Copa, que muita gente achou que não fosse acontecer, aconteceu e foi muito elogiada. Tivemos um ano de 2015 difícil, onde os políticos ficaram desenvolvendo um terceiro turno, brigando lá em cima, jogando a incerteza na economia e criando todos os problemas que a gente tem. A gente começa 2016 com um presidente da Câmara dos Deputados sendo acusado, temos um pedido de impeachment sem base jurídica e a economia precisa andar. O nosso setor sofre diretamente qualquer soluço da questão econômica. Como o Setcesp vê 2016?
Tayguara Helou: 2016 também não vai ser um ano fácil. Muitos dizem que teremos uma recessão de 3,5% a 4%, o que é muito pior que o ano passado. Eu acredito num 2016 um pouquinho melhor que 2015. Isso é pessoal. Por quê? Primeiro alguns fatos importantes: as eleições municipais vão gerar um pouco de economia, isso é invariável, isso vai acontecer. Segundo, as Olímpiadas que podem contribuir um pouco com esse desenvolvimento, vai trazer recursos externos para cá. O terceiro aspecto é a questão da valorização do dólar. É muito ruim para as grandes empresas multinacionais, para as empresas que tem endividamento em dólar, o que alavanca muito o endividamento dessas empresas. Mas, por outro lado, fomenta as nossas exportações, os produtos brasileiros passam a ser mais competitivos lá fora, o que é positivo. Se você pegar nossa balança comercial vai ver que ela é superavitária nos últimos meses de forma muito grande. Isso pode ser uma luz no fim do túnel. E também incentiva um pouco do comércio e do turismo interno, que as pessoas no momento de comprar uma calça jeans no exterior vão começar a pensar e vão ver que comprar no Brasil vale mais a pena. O Brasil hoje não sofre só uma crise econômica, ele sofre também de uma crise institucional, com todas as operações e investigações que estão acontecendo. E isso é muito importante para a gente mudar o Brasil. Está na hora de mudar, efetivamente! Tomara que quando chegarmos lá na frente, olhemos pra trás e lembremos de 2015 como o ano da virada. 2015 e 2016 foram anos de virada, não dá pra ter um regime de extorsão que existe entre departamentos públicos e empresas privadas, porque isso realmente atrapalha todo mundo. A gente realmente precisa mudar as coisas, as pessoas precisam mudar. E todas essas investigações que estão acontecendo vão fazer com que as pessoas pensem melhor antes de tomar uma atitude que não é correta.
Chico da Boleia: Sem dúvida, porque existe muita movimentação no judiciário, na grande imprensa, e a gente tem que acreditar que o nosso povo começa a olhar com mais crítica tudo aquilo que é veiculado e falado. No que se refere ao transporte, nós tivemos no final do ano um aumento da criminalidade em relação ao roubo de cargas e caminhões. O que o Setcesp está fazendo em relação a isso?
Tayguara Helou: O roubo de cargas é um dos nossos grandes problemas. Mas o nosso principal problema hoje é a justiça do trabalho, as leis da CLT que atrapalham as empresas e também os nossos colaboradores. O nosso segundo maior problema é o roubo de carga, ele por doze meses furtou das transportadoras e do comércio como um todo cerca de 1 bilhão de mercadorias. Esses recursos voltaram pra onde? Voltaram para as iniciativas criminosas que ser armaram mais contra a própria sociedade. Então o Setcesp tem isso há muitos anos como bandeira principal. Nós temos várias iniciativas em relação ao roubo de cargas, a primeira é, obviamente, na questão da legislação. O Setcesp encabeçou há dois anos uma legislação específica que pune o receptador da carga roubada. A gente tem que obviamente combater o criminoso, aquele que rouba a carga, mas ele é o final do processo. A gente tem que combater o final do processo que é o cara que compra a carga roubada. Nós aprovamos aqui no estado de São Paulo um projeto de lei que determina que o estabelecimento que for pego com carga roubada deve ter a sua inscrição estadual caçada. Portanto, ele não pode mais operar no estado. E todo aquele estoque que está lá dentro vai pra penhora e pra leilão, e esses recursos voltam para o combate do roubo de cargas. O Setcesp tem também uma assessoria específica para poder discutir todos os aspectos em relação ao roubo de cargas na pessoa do Coronel Souza, que é um craque de bola nesse assunto. Nós promovemos workshops de discussão em de roubo de cargas, gerenciamento de risco e segurança, todos os anos. Este ano iremos repetir nosso workshop. O Setcesp também dispõe de uma equipe que acompanha os seus associados no problema de uma ocorrência, em uma delegacia, para poder melhorar a questão da feitura de um boletim de ocorrência, nas informações contidas naquele documento, entre várias alternativas.
Chico da Boleia: Você falou sobre a questão da legislação trabalhista. Nós tivemos no ano passado, a aprovação da nova Lei do Motorista que começou de um jeito e que, no final, por pressão do agronegócio mudou razoavelmente o que era no princípio. Qual a posição, hoje, do Setcesp com a Lei do Motorista que foi aprovada?
Tayguara Helou: A Lei do Motorista que foi aprovada ano passado é a 13.103/2015, o que é um aperfeiçoamento da 12.619/2012.
O Setcesp apoia a 13.103, obviamente que há necessidade de fazer alguns ajustes na questão das horas extras, em algumas outras pequenas questões. Mas é uma Lei importante porque traz segurança e conforto jurídico para as empresas. Até então as empresas não tinham onde crer, nós caímos no geral, e o setor do transporte rodoviário de cargas não pode estar na vala geral, ele tem que ter uma regulação própria. Portanto, a Lei 13.103 é muito produtiva e nós a defendemos.
Chico da Boleia: Existem movimentos do Ministério Público do Trabalho, dos Procuradores do Trabalho, em questionar a constitucionalidade da nova Lei. Como você vê essa possibilidade da Lei ser questionada?
Tayguara Helou: Obviamente que o Estado é um Estado de Direito, todos aqueles que acham que há algo de errado tem o direito de questioná-la. Isso é legítimo e tem que acontecer, porque melhora tudo aquilo que a gente faz. Mas eu acho que a Lei que está aí hoje é uma Lei boa, ela beneficia o trabalhador, ajuda o empresário no momento em que ele sabe o que tem fazer. Portanto, eu não vejo problemas institucionais tão graves para derrubar a Lei. Foi o que eu disse, a gente precisa adequar alguns pontos da Lei, mas a Lei como um todo, não vejo nenhuma hipótese dela ser derrubada.
Chico da Boleia: Nós temos um grande problema na cidade de São Paulo, em função do seu próprio tamanho, que é a restrição de circulação de caminhões. A gente sabe que vocês estão com uma boa parceria com a Prefeitura no que se refere a isso, foi criado até um Departamento específico. Como está essa relação?
Tayguara Helou: Essa relação é maravilhosa! Na verdade nós temos grandes bandeiras na questão do abastecimento urbana da região metropolitana e da grande São Paulo. Bandeiras que se interligam. A nossa interlocução com a prefeitura e com a Secretaria de Transportes tem sido muito boa. O Prefeito Fernando Haddad e o Secretário de Transportes Jilmar Tatto nos beneficiaram com a criação do DTC, Departamento de Trânsito de Cargas, dentro da Secretaria dos Transportes, com pasta exclusiva para discutir os assuntos de abastecimento urbano, o que é muito positivo. Agora, vamos discutir pessoalmente algumas questões para melhorar o abastecimento da cidade. Há muita coisa a se fazer, mas nós temos algumas questões que são simples, que não dependem de grandes obras, como por exemplo, a padronização dos veículos, dos horários de restrição de circulação dos veículos. Nós não defendemos uma carreta na Avenida Paulista em horário comercial, sabemos que isso vai atrapalhar. A gente defende um veículo padronizado e adequado para o abastecimento urbano e a liberdade para que o empresário possa trabalhar com esses veículos de forma sincronizada. Nós temos restrições dentro dos municípios, uma diferente da outra. Nós temos restrições inclusive de tamanhos. Alguns municípios operam com o VUC (Veículo Urbano de Carga) de 630 e outras cidades operam com o VUC de 720. Defendemos o de 720 porque é mais produtivo, com ele conseguimos melhorar a questão do transporte coletivo de cargas. Ninguém transporta uma camisa de forma comercial, a pessoa transporta várias camisas muitas vezes para vários destinatários. E quando você entrega uma ou várias camisas para vários destinatários elas também não vão para uma pessoa só. Portanto o transporte de cargas tem que ser visto como um transporte coletivo.
Chico da Boleia: Isso quer dizer que em 80 anos de Setcesp, salvo algum erro de memória da minha parte, é a primeira gestão da Prefeitura que tem uma atuação mais profícua com relação ao transporte de cargas?
Tayguara Helou: Nós tivemos alguns prefeitos que estiveram abertos a questão do abastecimento urbano, porque não é só o transporte de carga. Mas essa prefeitura tem dado um olhar diferente e que é muito positivo.
Chico da Boleia: Independente do partido…
Tayguara Helou: Independente do partido! Eu acho que uma entidade de classe, uma representação, um empresário, tem que ser suprapartidário, obviamente que nós reclamamos dos problemas e do que está errado. Mas temos que fazer o nosso papel, temos que levantar quais são as soluções, temos que cobrar e trabalhar com quem está do lado das nossas prioridades, independente do partido ou da pessoa.
Chico da Boleia: Só retomando uma questão que me fugiu. A Lei da receptação já está valendo?
Tayguara Helou: Já está valendo e está passando pela regulamentação que está praticamente pronta. Isso porque precisamos regulamentar quais os órgãos que vão atuar em qual momento. A Polícia atuando na ocorrência e identificando que há carga roubada, a Secretaria da Fazenda atuando na cassação da inscrição, para que nos próximos meses isso já possa ir pra rua.
Redação Chico da Boleia
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